Mude o mundo

14/12/2012

O que te faz feliz




Chegava eu no Super, feliz. Tinha completado 10 Km de corrida em 45 minutos, marca espetacular para quem recomeçou a correr faz uns meses. Dá pra dizer "atleta de novo" eu acho.

Alguém me chamou.

Olhei para trás.

Uma senhora bem gordinha, com um menininho a tira-colo :

- Jacques, nossa, faz uns 20 anos que não te vejo..

E agora?

Quem é este ser, pensei eu?

-Não lembra de mim né? Sou a fulana , estudamos juntos no segundo grau..sentava

do teu lado...

Fulana..Fulana..FULANA ???

Como assim a Fulana? Fulana tinha uns 50 quilos e era a mais gatinha da sala!

Pela imensa simpatia e alegria demonstrada pela ex-colega em me ver, parei pra papear.

Casada , mãe de três filhos, se mudou para longe de Pelotas, mas está de férias visitando a família.

Dona de casa.No primeiro filho largou a faculdade e nunca voltou.

Exatamente a minha idade. Mas parecia uns dez anos mais.

Começaram na minha mente os milhares de julgamentos : "Puxa, parou de estudar.." "Dona de casa..hoje em dia? Como assim?" " E ela ERA tão bonita "...

Perguntou de mim e elogiava a cada coisa que eu contava, com um sorriso honesto.

Nisso, chegou o marido dela.

Mesmo naipe. Fofinho, carequinha, bermudinha de tergal e dock sides com meia..

Figuraça..hehehe..Ó os julgamentos...



Mas muito simpático.

Com outro filho a tira colo.

Nem me conhecia e me convidou para tomar um café ali na cafeteria do BIG mesmo.

Fazer o que? Fui né.

Eu meio bicho-do-mato, aos poucos fui largando o sorriso amarelo e conseguindo conversar de verdade. Ela ia contando para ele do nosso segundo grau, das nossas bagunças, grêmio estudantil e toda aquela função de adolescente.

E dez minutos de café, me dei conta que eu já gostava de estar ali. O que era para ser

uma interrupção das minhas compras, virou um papo agradavél..olha só..

Depois de mil convites tipo " Se for a Sampa aparece hein..mas aparece mesmo!" nos despedimos.



Quando cheguei em casa, saí para passear com a minha cusca Hopenilda e fiquei pensando..

Como estabelecemos e estabelecem pra nós modelos de felicidade.

"Ser feliz é isso, ser feliz é aquilo"

Padrões éticos, comportamentais, físicos que NÂO são os nossos..como são difíceis de entender e respeitar.

Fiquei lembrando que enquanto ela falava, ele olhava pra ela e sorria suavemente.



Ele gostava de ver ela ..FALAR!



Contaram histórias e riram juntos com um estranho que nem queria estar ali minutos antes!

Pois é..quem diria que alguém fora do meu modelo de "sucesso na vida" poderia ser alegre.

Provavelmente, mais livre dos modelos e imposições que nos auto-submetemos, eles arrumaram um tempo pra serem assim. Felizes.

Me pareceram muito contentes um com o outro.

Puxei a Hopenilda pela cola de dentro da valeta que ela se encontrava e voltei pra casa pensativo..

E um pouco triste, confesso.Comigo mesmo, claro.

Minha marca de 10km em 45 minutos ficou muito..mas muitoo pequenininha...


-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x--x-x-x-x-x-x-x-x



Deve ser  bom perdoar uma pessoa por ela não ser como a gente queria.

E deve ser muito melhor gostar de alguém, APESAR de esse alguém ser quem é.


Quero chegar lá!




Jacques, véspera de Natal, ano de 2012 do nascimento de NSJC,

Morada dos Quero Queros, Colina do Sol, Satolep dos Ventos City.





02/04/2011

Início do capítulo 7 de " Noites de lobisomem" - Cortesia aos seguidores


            Óbvio que não havia lógica naquilo. Mas eram mais de três da manhã numa terça feira de agosto. Da janela de casa eu via as luzes de Satolep ofuscadas por uma névoa que deixava os paralelepípedos bem cortados do velho centro da cidade tão molhados como se chovesse.
Eu ia sair. E não ia ser uma caminhada bípede, se é que me entendem. Por trás daquelas nuvens carregadas, era lua cheia. Não que ela me obrigasse a nada. Não que ela me obrigasse a “mudar”. Mas não nascem mais bebês na lua cheia ? Pois é. Não se sabe bem porque. Mas nascem. Também prefiro noites de lua cheia. Gosto de pensar que é alguma coisa romântica. Bom, pelo menos ter alguma coisa romântica em ser um monstro seria bacana.


 Saí do meu prédio caminhando normalmente pela porta da frente, em direção a uma obra abandonada algumas quadras abaixo. A noite realmente era terrível. Fria, úmida, bem gaúcha. A condição ideal ( se é que existia uma ) para um “passeio” no centro de uma cidade de quatrocentos mil habitantes. Pulei o muro da velha casa sem muita dificuldade para fazer o improvável numa noite com três graus de temperatura. Ficar nu.
Pois é. Queria que fosse nos filmes, onde as roupas somem automaticamente em metamorfoses de homens-mosca ou incríveis Hulk. Mas as leis da física se aplicam também aos “garous”. Ou você fica pelado ou a calça jeans vai apertar teu saco de lobo e acreditem, é bem difícil tirar uma calça jeans sem polegares opositores pra ajudar. E as unhas não ajudam em nada!
Estou ficando cada vez melhor nisso. O que antes era um tormento de quinze minutos muito dolorido e apavorante, agora demora um terço disso e quase sem dor. Sai de cena o pós-adolescente desengonçado e surge o lobo, ainda também desengonçado. Mas vou melhorar.
Os cheiros da cidade já invadem a minha cabeça. Meu nariz inoperante de gente agora era um focinho e algumas centenas de vezes mais sensíveis. O cheiro podre no lugar era algo. Devia ter de tudo ali. Fui identificando cheiro por cheiro. Animais mortos desovados ( provavelmente um gato), lixo apodrecendo, urina e fezes de toda espécie e..putz. Gente. Cheiro de gente!!
Meu coração disparou imediatamente e senti os pelos do meu dorso se ouriçarem. Havia gente ali? Que burrada eu fiz!
Respirei fundo para identificar a direção. Uma cautelosa olhada panorâmica no ambiente da casa em ruínas e não vejo nada. Mas é fácil seguir o cheiro. Me esgueiro um pouco entre o capim crescido onde antes devia ser a sala da frente e a origem do cheiro surge. Um homem dorme enrolado em papelão. Um mendigo. A julgar pelo cheiro de cachaça que pairava no ar cada vez que ele respirava e roncava, se acordasse e me visse, me chamaria de Totó ou algo assim. Pulei o muro sem dificuldade.


Estava na calçada. Agora era sem volta. A cidade estava realmente deserta e me parecia que não seria impossível me esconder nas sobras e dar uma “volta”, digamos. A não ser que me vissem muito de perto, de longe eu poderia passar por um Husky bem grande. De oitenta quilos é verdade, mas.. A gente se engana bastante quando quer se convencer de algo.
Evitei um ponto de táxi na esquina e peguei uma rua menor e mais escura. Alguns carros estacionados, mas nem sinal de gente. Vi o prédio do antigo Mercado e a Prefeitura , iluminados e arrisquei passar entre eles até chegar a praça central. Rota bem arriscada. Não havia obstáculos, bancos ou árvores no largo do mercado. Se passasse um carro ali naquela hora, eu seria visto. Só me restaria baixar as orelhas e me fazer de morto. O tal Husky aquele..Só quer morto.
Mas cheguei ao destino sem muitos percalços. Pra minha boa sorte, com a última reforma, a maioria das luzes centrais da praça se apagava depois da meia noite. A penumbra da nossa “ cerração” criava a paisagem ideal para o trajeto. Não havia nem prostitutas , nem bêbados, nem ninguém da “fauna” habitual das praças urbanas. Me sentei um pouco junto a um trecho não alcançado pela luz do poste distante e fiquei contemplando a velha e linda Satolep e seus casarões numerados.
Passos.
Um salto alto. Ergui o pescoço e provei o ar da madrugada. Uma mulher. Jovem. Um perfume caro. Passos não muito firmes na verdade. Inexatos. Talvez bêbada. Ia passar ao longe, quando do nada dobrou em minha direção. Mudou o caminho. Tarde demais pra me mover. Fique exatamente como estava e torci pra que a escuridão da praça e a embriaguez da moça não me revelassem.
Passou por mim semi-cambaleante. Maquiada, produzida, bêbada. Muito provavelmente vinha de alguma balada ou bar. Ah, e além de maquiada, produzida e bêbada, maluca é claro. Quem atravessaria aquela praça as três e meia da manhã? Mas como eu sempre digo : Enfim...
Mais passos! Como assim? Não existe mais medo de assalto e violência urbana? Todo mundo cruza a praça de madrugada? Bom , ao menos agora eu já tinha me recolhido junto perto de umas hortênsias e estava bem escondido.
Homem. Meia idade. Mal encarado.
Um canivete na mão....
Ele ia uns vinte metros atrás da moça. Mas ia mais rápido que ela. Calculei que chegaria nela exatamente no meio da praça, onde era mais escuro e mais deserto ainda.
Me lembrei dos filmes americanos : “Assalto em andamento!” Ou coisa pior...
Não sabendo exatamente o que eu ia fazer, fui acompanhando a cena, me esgueirando entre bancos e árvores. Passo a passo com o “elemento”...
Exatamente como eu previa, no meio da praça, em frente ao velho chafariz francês, o bote:


-A bolsa, me dá a bolsa – quase sussurrou o sujeito, enquanto pegava a mulher pela cintura e mostrava o canivete na outra.


Ela não esboçou reação. Ao perceber o que acontecia, estendeu a bolsa, que foi arrancada da mão com um forte puxão. O sujeito ficou parado por alguns segundos observando, talvez ainda surpreso pela falta de reação ou ao menos de um grito por parte da sua vítima. Ela virou, agora assustada e saiu caminhando dessa vez a passos firmes e rápidos. A descarga de adrenalina da situação tinha feito a bebedeira quase sumir. Parecia que ela ia embora normalmente. Um assalto tranquilo , eu diria.
Mas ele mudou de ideia. Infelizmente.
Correu a direção dela e com uma gravata começou a puxá-la em direção aos banheiros:


-Vem aqui gostosa, e não reage que eu te mato, vadia..


Aí complicou. Um velho e bom assalto, tudo bem. Era até bom pra moça aprender que bebida e voltar pra casa sozinha não combinam. Mas o que estava pra acontecer ..
Não aconteceria comigo ali.
Até então eu nunca tinha confrontado uma pessoa de frente. Não tinha nenhuma noção do que eu ia fazer. Então apenas me levantei e andei em direção a eles. O cara tinha dificuldades pra fazer a moça entrar no banheiro, ela resistia bravamente.
Saí da escuridão. Meu sangue gelou, confesso.
As patas da frente cravaram no chão. Minha cabeça baixou, formando uma linha reta com o tronco. Minhas narinas dilataram e o ar quente da minha boca encheu a madrugada. Senti meu tronco se elevando. Minha gengiva se abriu lentamente, mostrando o que com certeza o que não devia ser uma cena meiga. A boca de um lobisomem prontinha pro “jogo”.
No rosto de ambos, assaltante e assaltada, a incredibilidade.
Foi bem mais fácil do que eu pensava. O sujeito largou o canivete na grama e saiu em desabalada carreira. Dica: Nunca corra na frente de um lobo. Ou ele vai achar que você é comida ou que está de brincadeira. Em ambos os casos, pode ser digamos, perigoso. Vontade até que deu de ir atrás. Mas a moça já estava a salvo.
Deixa o cara. Vai demorar pra “trabalhar” por ali de novo.
Mas agora eu tinha outro problema: Uma guria com a maquiagem borrada, parada na porta do banheiro feminino da praça me olhando com uma cara de “ Como assim um husky desse tamanho?”
Ficamos nos fitando alguns momentos e então dei uns passos pra trás. Na verdade era algo tipo “ Pode passar, não vou te morder”. Pelo menos era o que eu queria que ela entendesse. Ela juntou a bolsa do chão e entendeu. Sempre me olhando, foi ganhando o corredor da praça e se afastando. Tentei fazer uma cara amistosa, sei lá. Acho que não consegui.
Quando ela estava longe, comecei a acompanhá-la de longe. Via ao fundo sua silhueta, mas vi bem quando abriu a porta do prédio onde morava. Olhou pra trás. Me deixei ver, ao fundo, quase na esquina, observando. Me viu. Fechou a porta apressada e sumiu.
Era meu sinal pra voltar pra casa. Já estava muito bom por aquela noite. E depois das quatro a cidade começaria a acordar. Pelo menos fiz uma boa ação. Voltei contente, me lembro bem.
Mais tarde já em casa deitado e custando pra dormir, pensava naquele meu primeiro contato “lupino” com a civilização. A partir dali correr nos campos e nas florestas de eucalipto não foi mais suficiente. A madrugada de Satolep tinha um novo frequentador...

09/09/2010

Quem tem um , tem tudo

Post com musiquinha pra ti ! Liga o som!
Chiquinho e Tonico se conheceram lá pela década de 40, moleques, numa ruazinha de terra no bairro Areal em Saint Satolep. O pai do Tonico tinha vindo do Rio de Janeiro, era militar e veio morar na cidade. Frequentavam o mesmo coléginho municipal, jogavam bolita juntos e brincavam nas poças de chuva. Depois adolescentes, foram ao primeiros bailinhos juntos, tomaram o primeiro trago de cair e serviram o exército na mesma época. Quando saiu do quartel, Tonico começou a namorar Heloísa, a Lolô, prima de Chiquinho. Dois anos depois, ainda muito jovens casaram. Chiquinho casou mais tarde, com vinte e quatro anos, com uma colega sua de trabalho que conheceu pouco tempo depois que foi admitido como escriturário no. Banco Pelotense. Aos trinta anos, Tonico tinha dois filhos e Chiquinho dois. Dois anos mais tarde, Dona Heloísa, antes Lolô, veio a ter grave enfermidade e faleceu, muito jovem ainda, deixando seu Tonico arrasado e com dois filhos pequenos pra criar. Como trabalhavam só a tarde no Banco, Chiquinho e a esposa ficavam todas manhãs com os meninos de seu Tonico, para ele cuidar do seu negócio, uma pequena marcenaria. Aos quarenta anos, Chiquinho havia já deixado o Banco e cuidava de próspero negócio : Uma fabriqueta de envase de pêssego, comprada anos antes em sociedade com dois colegas de banco, havia virado negócio promissor e seu Chiquinho logo se destacava no meio econômico-social da cidade. Seu Tonico ainda tocava sua marcenaria, que com um pequeno empréstimo conseguido junto a Chiquinho, agora tinha serras novas e maquinário de polimento moderno, importado do estrangeiro. Chiquinho adquirou uma mansão no Balneário Santo Antônio e Tonico foi o responsável pela construção da maioria dos móveis da residência : “ Trás apenas a madeira, Chico !”


Depois de uma década viúvo, Seu Tonico casou de novo, e Seu Chiquinho e Dona Lolô foram os padrinhos de casamento. Se quando moleques jogavam bolitas , agora a dupla era adepta da bocha, e faziam uma parelha vitóriosa, terceira colocada no citadino Pelotense de 81. Vieram os netos de ambos e as festinhas eram compartilhadas. A casa na praia juntava as famílias.

Também foram companheiros na pescaria, onde embarcados pescavam ali na Torotama, na ida para Rio Grande.

Aos 78 anos seu Chiquinho teve o primeiro infarte. Colocou uma safena. No ano seguinte, outro e nesse perdeu grande parte da capacidade do coração. Aos 80, foi achado morto pela esposa sentado na cadeira de balanço da varanda da casa da praia, com expressão tranquila e serena.

No velório, centenas e centenas de pessoas. Seu Chiquinho foi homem querido na comuna. Coube a encomenda ao seu Tonico, o marceneiro, dizer algumas palavras de despedida. Fez-se silêncio a beira do túmulo do cemitério-jardim.

Tirou do bolso emocionado duas folhas, datilografadas a punho, durante a madrugada.

Secou as lágrimas, olhou para os netos, filhos, amigos..Respirou fundo do alto dos seus também oitenta anos.

Olhou para o papel em suas mãos e calou antes da leitura. Parecia refletir..Olhos ao longe, projetados ao horizonte, sorriu.

Guardou lentamente as duas folhas datilografadas no bolso do paletó.

O semblante se iluminou e surgiu um sorriso no rosto cansado.

Colocou a mão sobre o caixão.

Olhou com serenidade para o rosto ancioso de todos presentes.

E apenas declarou :


-Amigos. Fomos AMIGOS!


As palmas pontuaram a frase e invadiram o lugar. Não havia mais nada a dizer.

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Minha homenagem tardia ao Dia do Amigo. Aos meus, aos seus, a todos que são e tem um amigo


Quem tem um, tem tudo!





Lobisomem rumo a Cordilheira, setembro 2010.

06/09/2010

Não existem mais Julietas

                                                   Sacada dos Capuletto, Verona

E nunca houveram Romeus..

O som do violoncelo
No salão de Castelo
Para a valsa do amor

Histórias antigas
Dos contos passados
Sobre uma moça perdida
E um garoto engraçado

Sei que não há mais Julietas
E não existe um Romeu
Mas que graça que há
Em viver só comigo
Em viver com o umbigo
Sem ninguém
Pra sonhar

Poemas de amor são assim :
Todos cretinos, todos meninos que não sabem onde vão
Sim, já percebi o infinito é um mito
Tudo tem seu fim
Já não procuro a Julieta
Apenas procuro por mim

 Jacques

18/07/2010

O fog da alma

O frio chegou em Satolep. E quando chega o frio aqui, é de verdade.

Nossa Londres. Segunda cidade mais úmida de todo planeta terra. A fama de reduto dos “ delicados” se prova mais injusta nessa época do ano. Tem que ser muito macho pra sobreviver ao inverno nesse paralelo aqui.

O inverno tem muitas coisas boas. Eu particularmente prezo muito a possibilidade das quatro estações. Verões porto alegrenses escaldantes, primaveras coloridas, outonos cinzentos e invernos gélidos. Nós gaúchos somos previlegiados. Imagina os brasileiros por exemplo. Sempre calor. O que difere é se chove ou não chove. Não. Meio monótono. Prefiro aqui.

Saí para dar aula e estava uma noite muito fria. Recém tinha chegado de Porto e estava cansado. Tirei o terno, meti casacão de neve comprado em Chamonix, cuecão por baixo da calça, toquinha de bandido e “vambora pra facul”. Saí de lá umas nove da noite, morto de fome. O lanchinho da sala dos “profs” não deu nem pra largada...Na saída, lembrei que lá na mãe no inverno sempre tem sopa de noite. Então resolvi evitar a tradicional “ pizza-porra-nao-tem-nada-na-minha-geladeira” e filar a sopa da casa dos pais.

E “tava” bom “ Daquelas que tem carne , milho e tudo mais. Um dos espetáculos do inverno. Sopão gaúcho!

Na saída, ainda resolvi levar mais um pouco pra casa. Sabe como é, a ceia antes de dormir..mais sopinha.

Vinha no carro e admirando as ruas vazias e geladas de Satolep. Só poucos canos de carro esfumaçantes e um ou outro rabo de manta passando apressado pra casa.. O invernão chegou. E com força. Mas como eu sempre digo, por trás de dias comuns e noites tranquilas, sempre tem uma história. A gente só tem que enxergar...

Quando eu chegava em casa, parei na frente da garagem como sempre e buzinei para o segurança abrir o portão. Eram umas dez e pouco da noite..Ele demorou um pouco pra abrir e reparei numa menina sentada ao lado do portão da garagem..Pelas roupas uma menina de rua ou ao menos, bem humilde, numa primeira e superficial análise..e percebi que ela chorava..e bastante...Confesso que mais por ato reflexo do que propriamente por saber o que fazia, abri a porta do carro e fui até ela:


-Tu tá bem? - Perguntei o padrão.

-Eu não tenho nada, eu não sou nada, sabia ?

Foi a resposta dela para minha surpresa. Eu esperava algo como “ alguém me fez algo ou estou com fome..

Mas o que veio foi bem mais profundo. Nestas alturas prestei mais atenção na menina. Pele clara, cabelos louros mal cuidados, uns 18 ou 19 anos no máximo. Rosto cansado, mas belo, por trás da dureza daquela vida.

Insistindo , perguntei :

-Tu tá te sentindo bem ?

Ela balbuciou de novo:

-Eu não sou nada...

O que dizer numa situação dessas? Parado ali naquele frio, eu olhava para ela e ela olhava para o nada. Oferecer dinheiro? Comida? O que para aquela moça que “não era nada?”

Ela carregava na face um olhar de desespero que eu nunca tinha visto num ser humano. Até porque provavelmente nunca olhei uma pessoa como ela de perto.

Peguei dez reais da carteira e perguntei :

- Te ajuda ?

Ela pegou da minha mão e amassou, como se guardasse o dinheiro dentro da mão. Agradeceu, olhando para baixo.

Me lembrei da sopa que eu trazia no carro :

-Tu quer sopa ?

Ela não esboçou reação alguma.

-Então espera aí que eu vou esquentar ali em cima e já te trago – disse eu.

Voltei dei a sopa para ela e subi.

Lá da minha janela do 11º, minha torre do castelo, eu observava ela sentada ali acabando de comer. Vi que terminou e ela sumiu um pouco no hall do meu prédio. Descobri depois que era pra devolver o prato e a colher, que o segurança veio me entregar.

Vi ela se afastando com um passo muito devagar. Passo de quem não te certeza alguma para onde vai. A Caminhada dos Incertos.

Fiquei na janela olhando a noite por um tempo e pensando naquelas palavras e no que eu poderia ter dito a ela.. Um consolo, uma esperança enfim..

É, mocinha loura do prato de sopa.. Se tu não tens nada e não és nada..Agora nesse momento não me sinto muito diferente de ti.. Porque te olhando aqui de cima indo embora como chegou, posso te dizer..Nesta noite eu tenho tudo, mas não SOU nada.

Porque no final, eu alimentei o corpo e dei dinheiro..Mas alma dela saiu da porta do meu prédio como chegou. Sem ter e bem pior... sem SER..

Jacques



London dos pampas, inverno blue, 2010

18/06/2010

Epitáfio de um amor













Não conheci os olhos do amor..
O vi de costas , já se indo.. já vai?
Não, nenhum amor vai..
Se esvai..
Nenhum amor vai de repente
Nunca morre assassinado...
Morre sempre a mingua, dia após dia,
Subnutrido e não alimentado..

Esqueci meus sonhos naquela primavera
Em que o amor deu tchau sem nunca ter dado oi
nem sorriu pra mim, mal educado
Podia ao menos ter me avisado..que ia embora assim..
Sem nunca ter chegado...

Quando esteve, eu não vi
Quando me sorriu, não entendi
Quando me propôs, titubiei
Quando me abraçou, me soltei

Sujeito mal educado!

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É, menina...
Depois de ti não consigo mais dormir no escuro..
No 1104 da Osório,
A noite,
A luz fica acessa no hall de entrada..
E entre eu e a alegria ergueu-se um muro :


Não enxergo mais a vida colorida
E não sinto mais minha alma perfumada.

Jacques, outono indo, 2010

.o videozinho, que pelo que entendi uma Thiara fez pra um Murilo. É muito bacana! Achei no youtube)

(Assista
Foto : Taj Mahal, o mais belo dos túmulos.

12/05/2010

Tudo o que eu quero de você



Tudo que eu quero de você..





A alma ? É acho que é a alma que quero..A tua parte mais bonita, a essência de você. É onde está guardado o DNA do teu lado divino...a parte que não se perde, que a matéria não domina. Onde o tempo não pode agir e o único lugar onde estão intactas tuas características. Sim ! É isso.

É tua alma que quero. E claro, é óbvio que também serás dona da minha.

Será?
Ou que sabe o que eu queira seja a tua mente ?
A mente? Claro. A mente é a verdadeira senhora da vida. Decide teus passos e tuas escolhas, comanda tua vida. Tendo a tua mente te terei por completo, pois as tuas escolhas serão sempre baseadas em mim. Estarás sempre pensando em mim e assim, sempre estarei presente na tua vida e em cem por cento dos teus pensamentos. Nada te fará tão minha quanto ter a tua mente. É isso.

É a tua mente que quero. E claro, é óbvio que também serás dona da minha.

Será?
Mas e teu corpo? Você afinal não é real apenas no corpo que habita? Não posso ser dono de coisas abstratas como alma e mente. Mas do corpo sim. Se teu corpo me quiser sempre, serás minha. Porque nele, teu corpo, se materializa toda tua vida. Isso.

É teu corpo que quero. E claro, é óbvio que também que serás dona do meu.

Será?
Se bem que, desde o início dos tempos, ouvi que se quisermos alguém, temos que ter o coração.
Porque pra ter alguém, temos que ter o sentimento, a paixão, o amor. E estão no coração certo?
Então é ele que devo possuir. Dominá-lo totalmente é que me fará te ter.

É teu coração que quero, então. E claro, é obvio que também serás dona do meu.

SE BEM QUE..

Quem sou eu pra ter a alma de alguém? Logo a alma que carrega os aprendizados..que é o que te ilumina e te faz diversa entre tantas outras pessoas..Se a tua alma é minha, te aprisiono num lugar onde não mudas. Te torna dependente de mim pra crescer. Não posso ser dono da tua alma.

A tua alma é só tua.

E a mente? Posso estar cem por cento do tempo nos teus pensamentos? E a tua família , teus amigos, teus sonhos? Se te tenho a mente , como te deixo sonhar ? Irás aprender e melhorar presa a mim? Não posso ser dono da tua mente.

A tua mente é só tua.

Bom e o coração ? ah..sei que já tem tanta gente lá, porque ele é tão grande e espaçoso! Pra ser meu terei que tirar as pessoas que tu ama de lá? Como posso? Até porque ficarei sozinho lá, sem companhia, nesse coração imenso. Não saberia preenchê-lo sozinho. Não. Cabe muito mais gente por lá. Não posso ser o dono do teu coração.

O teu coração é só teu.

O corpo então ? Não . Também não terei. Ninguém tem o corpo de alguém de verdade se não tem a mente, a alma e o coração..Portanto..

O teu corpo é só teu.


XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX


Faz assim então : Me dá a tua mão.
Vamos em frente.

Ninguém é dono de ninguém, mas a gente se tem!

Combinado ?

Jacques, outono já fechando a janelinha pro inverno, Satolep dos sonhos City, 2010

23/12/2009

A beleza que passa e a beleza que fica




Conheci a Luíza (Não é o nome dela, óbvio) quando eu tinha 21 anos. Eu estava voltando de uma temporada morando no Rio. Ela tinha mais ou menos a minha idade, e era definitivamente, a guria mais linda que eu tinha visto na minha vida. Ao menos de bem pertinho.
Era estágiária lá no trabalho e por essas coisas que só o imponderável explica, um dia eu lanchava minha coca com recheada, quando ela sentou na minha mesa do refeitório e para a inveja do mundo inteiro, me deu oi.
Era por si só o que podia se chamar de força da natureza. Era tão bonita, que por onde passava todos olhavam. Homens , mulheres, ninguém ficava indiferente àquele morenão caboclo. Como era mais do que clichê, em um mês eu estava babando feito um buldog num prato de carne. E nem namorado era. Eu era apenas o amigo cabeludo, que tinha uma moto bacana e fazia ela dar umas risadas. Aliás, ela TINHA um namorado. Mas não era eu. Eu queria, mas não era eu. Quatro meses depois, ela trocou de namorado. O novo era mais velho e mais rico. Mas não gostava dos amigos dela. E eu, inevitavelmente, sobrei.
Lembro que fazia um mês que não a via. E ela apareceu um belo dia lá em casa e me levou uma maçã. Me entregou e sorriu. Aquele sorriso que toda vida abriu as portas para tudo, escancarado ali na minha frente de novo. Ela me beijou a boca e foi embora. E eu não a vi mais. Só na rua , de relance, ou dentro da camionete do namorado mais velho e mais rico.
O tempo passou. Muito tempo. Fui morar em Porto, quase uma década e um belo dia, reencontrei a figura. Recém separada, com um filho lindo de 5 anos. Veio falar comigo com o mesmo sorriso de quinze anos atrás. Porém alguma coisa mudara ali. Saímos, conversamos, ficamos e enfim... Sim, porque da primeira vez, eu era só o amigo. Não tinha essa parte boa. Fui para casa e fiquei pensando o que tinha mudado nela.Algo estava diferente naquela nossa relação. E aí me dei conta que ela não tinha mudado. EU é que tinha mudado claro. Apenas ela não me assustava mais. Algumas mulheres bonitas e poderosas já haviam passado e já não era tão fácil de minha barriga embrulhar. Acho que desta vez, ela se apaixonou e eu, não.
A beleza, etérea, passa. E se você não acrescenta algo na sua vida, no seu ser, um dia a vida vai lhe cobrar essa conta. A menina linda e deslumbrante, talvez ao longo de seu apogeu, deveria ter se preparado para o declínio do corpo que é natural a todo ser com o passar dos anos. Talvez se fosse uma psícologa ou professora de 35 anos, a falta da beleza dos outrora 20 fosse preenchida por um papo cativante e interessante. Mas não foi o caso.
Se a um menino de 20 anos, a beleza estonteia e desnorteia, a um cara de 30 e vários ela apenas desperta. Mas não é mais fulminante e definitiva para a consumação da sedução. Uma vez vi um intelectual na televisão em uma entrevista dizendo que torcia para que sua filha, recém nascida, fosse feia. Segundo ele, a beleza atrapalhava o desenvolvimento intelectual e espiritual do ser. Não chego a ser tão radical assim, mas existe um fundo de verdade nessa afirmação. A beleza oprime.É cruel. Impiedosa. E isso na verdade, é um fato natural dos seres vivos, não só dos seres humanos. Existe o macaco mais bonito aos olhos da macaca, o leão mais interessante aos olhos da leoa. E na real, não é o problema. Todos gostamos da beleza. Ela alegra os dias, perfuma a alma. Acho que na verdade, só precisamos agregar aos nossos conceitos outras belezas. A beleza da irmandade. Do desenvolvimento intelectual. A beleza de uma cabeça arejada. De um sorriso franco. Tudo bem que isso não vai vender sabonete nem loções na tv. Mas daria a Luiza um perfil mais interessante. Ao invés da bela menina Luíza, talvez tivéssemos a belíssima mulher Luiza.

Hoje a beleza não abre mais portas para ela. Talvez ela tivesse que ter se preparado para abrir suas próprias portas.


Jacques, verão de 2008

16/12/2009

Meu texto no Pretinho Básico da Atlântida


Para quem não conhece ou não mora no RS, o Pretinho Básico é um programa de humor opinativo da rádio Atlântida FM, do grupo RBS. Programa de maior audiência do rádio no sul do Brasil. Tive a felicidade de ter meu texto sobre o Natal " E se Cristo nascesse em Porto Alegre" lido e comentado pelo pessoal do programa. Copiei e editei o podcast e coloquei aqui no blog. Bem bacana, narrado pela voz do apresentador Alexandre Fetter.
Basta clicar abaixo para ouvir. O texto completo está publicado aqui no blog.


Se eu não "falar" mais com vocês por aqui, Feliz Natal para todos. E um "upa" de aniversário forte pro nosso amigo JC.

Le loupgarou, vespéras de Natal, iluminada Satolep.

PS Especial :

Meu grande abraço a minha leitora (que não conheço) Doula, que postou esse comentário numa de minhas histórias. Um beijo pro Lorenzo. E pode dizer pra ele que os lobisomens são todos do bem..E que já ouvi falar de um perto do Alegrete. beijão Lourenço!

"Doula Zezé disse...
Jacques,A pedido do meu filho(9 anos) que queria que eu contasse uma estória bem horripilante para ele dormir, sai a pesquisar na internet e me deparei com a tua maravilhosa estória "eu e o lobisomem".Sou da fronteira, Alegrete e também ouvi muita estória de lobisomem... Meu filho Lorenzo, adorou a tua!!!!Muito obrigada, pela riqueza da tua estória!Grande abraço, Zezé"

09/12/2009

Seja rápida...



Que me queime a pele
A cicatriz é bem vinda
Sinal que vivi
Que a tua facada seja funda
Que mate meu amor logo
Rápido renasço
Rápido me livro de ti
Tapinhas não
Quero teu soco de mulher melhor dado
Assim me acordo
Do torpor que você me trás ao te querer
Seja dura e direta


Tu me mata aos poucos com teus beijos meia boca


22/09/2009

Eu









Eu não quero devaneios escrachados
Nem 12 de junho, flores que murcham logo ali
Quero cartas do teu punho confessando
“Nada é grande se estou longe de ti”

Eu não preciso de declarações exageradas
Sò preciso mesmo é saber que estás aqui
Porque do amor não se precisam exageros
O amor já é um exagero em si .

Eu não carrego cicatrizes de amores
Talvez de algumas dores e são a prova que vivi
Mas se tens as tuas, do passado
Eu as quero, quero tudo que há em ti.

Jacques, pré-primavera 09

14/09/2009

Dançando pelos Castelos da França

Janeiro/08
Quando saímos de Paris, eu não tinha muitas expectativas , confesso. Estava muito mais preocupado em dirigir e conseguir sair mesmo da cidade que propriamente imaginar o destino. E também estava tão encantado com Paris que nem queria esperar nada do tal Vale do Loire.
Esse vale, que tem esse nome porque o rio Loire flui por ele, é a região com a maior concentração de castelos do mundo e os principais da França, na sua maioria balneários ou estâncias de caça de reis e nobres. Outra coisa interessante é que a pronúncia de Loire em francês é algo muito parecido com “Luar” o que abre uma possibilidade infinita de licenças poéticas. Para um “imaginador” como eu, um prato de caminhoneiro, bem cheio. Saindo de Paris, lentamente o cenário foi mudando para um bucólico ar campestre francês. E umas duas horas depois, após cruzar algumas pontes medievais e passar por minúsculos povoados, chegamos a Chambord , o maior dos castelos do vale. Grandioso, a imponência do lugar comove na chegada, rodeado por um simpático hotel antigo e aconchegante. Quando eu desci do carro parecia o tal menino com uma bola nova. Já fomos logo tirar fotos e olhar o castelo por fora, visto que era final de tarde e nossa idéia era “adentrar” o bicho na manhã do outro dia. A tarde se esvaía e tínhamos que voltar para a cidade mais próxima antes do anoitecer, para conseguir um hotel ou um lugar para dormir. Quando me ocorreu : Por que não passar a noite ali, naquele cenário magnífico? A Cláudia questionou se o hotel não seria muito caro e resolvemos ir lá perguntar. Não era. Menos de cem euros era aceitável e o preço se enquadrou. Olhamos os quartos e escolhemos um que, da janelinha, dava pra ver o castelo ( Os que tinham visão total eram mais caros). Jantamos por ali mesmo e o frio do inverno francês invadia a noite com força. Após a janta fomos dar uma caminhada em torno do castelo e fazia muito frio, imagino que um ou dois graus. Mas a cena era tão fantástica, aquela imponência toda valia o frio. Eu, leigo no assunto, me esforçava pra não demonstrar todo meu “abobamento” frente ao que se via, afinal ela era muito viajada, já conhecia o lugar e eu não queria pagar de totalmente deslumbrado. Bobagem, claro.
Já no quarto do hotel, prontos pra dormir, eu ficava espiando toda hora pela janelinha e ficava imaginando as noites antigas no lugar , onde reis e suas cortes desfrutavam de jantares nababescos e formais.
Dormi com aquela imagem de sonho na minha cabeça e cedo pulamos da cama para o Petit déjeuner, o café da manhã dos franceses. Assim que o castelo abriu pra visitação, estávamos nós lá, guias na mão e andando pelos 440 quartos, 365 lareiras e 84 escadas de Chambor.
Ficamos horas lá dentro e a cada peça ou quarto famoso, eu viajava pelo tempo. As escada principal do castelo foi projetada por Leonardo da Vinci e concebida pelo gênio de uma maneira que, quem subia não topava com quem descia. Segundo a história, era uma maneira do Rei Francisco ir ao quarto das amantes sem que a rainha percebesse. Vai saber..
Saí de lá cansado de tanto caminhar e não passamos nem pela metade do castelo. E ainda iríamos ver outros(ChaumontSurLoire e Chenanceaux ou Chenanceau ). Este último também lindíssimo, construído sobre um rio e com uma salão de baile de sonhos. ( foto postada abaixo).
Seguimos nossa viagem pelo interior da França e rumo aos Pirineus e a Barcelona, mas o Loire e seus castelos com certeza me vinham a mente a todo momento. E escrevendo agora, parece que estou ali, imaginando a vida dos homens 500 anos atrás.
O Loire que me aguarde, em breve estarei lá de novo. É um dos lugares que quero rever, agora não com os olhos de novidade, mas com os olhos de saudade. Por enquanto vou revendo as fotos e filminhos, lembrando da tarde ensolarada e da noite gelada de Chambord.

As fotos e vídeo são nossos.

Quem sabe um dia também dançarás nos salões de Chenanceaux ?

Hein ? Hein ??


Viaje. Dance. ( Eu nem sei dançar..)






Dica : Carregue todo video e depois assista novamente.
Assim você não tem as paradas chatas de carregamento de buffer.



Le loupgarou, pós chuvas de setembro, ano de 2569 do calendário budista.

08/09/2009

Com Sol e Sem Sol




Era um domingo de manhã de maio e Pedro estava sentando numa mesa do Café Aquarius. Tinha acordado tarde naquele domingo e não achando mais lugar para almoçar em Satolep, resolveu recorrer ao bom e velho a la minuta do Café. O lugar lotava no domingo e ele, sozinho, saboreava seu almoço e bebia uma Coca para remediar o trago do sábado. Consolacion entrou apressada, queria comer um sanduíche e rumar para a Feirinha do Artesanato, onde vendia coisas típicas de Punta hermosa, cidade costeira Peruana , de onde ela tinha chegado três meses atrás. Não tendo onde sentar, a indiazinha pediu ao desconhecido e branquelo Pedro, com sotaque carregado:
-Posso me sentar aqui?

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Recebi um email semana passada de uma menina, Ana, que me contava estar no Brasil fazia um mês e pouco. Tinha vindo do Peru, através de um intercâmbio, estudar comércio exterior. Tinha chegado até meu nome através dos pais, Consolacion e Pedro, que descobriram através de antigos amigos que eu trabalhava na área e podia ajuda-la a conseguir um estágio. Bá! Quanto tempo não ouvia falar dessas figuras? Vinte anos ? Por aí.
Pedro era da minha turma de adolescência e Consolacion acabou incorporada quando se tornou sua namorada. Depois de um tempo ela engravidou e ambos resolveram ir para o Peru ao menos até a criança nascer, pois no Brasil ambos teriam dificuldades para criar sozinhos a criança. A última vez que os vi foi justamente na festa de despedida. Nunca mais tinha falado com algum deles.
Mas lembro bem deles. Pedro era um cara alto e brancão, sempre com roupas escuras estilo metal/dark e todo tímido. Já Consolacion era uma índia alegre e despachada, que divertia a gente com seu sotaque e curiosidade pelas coisas do Brasil. Logo ela ganhou o apelido de “Consol” que falando ficava “ Com Sol “ mesmo. E ele, como namorado e também em função da alvidez da pele e timidez, passou a ser o “Sem sol”. E a gente se divertia com aquele casal , a Com Sol e o Sem Sol.
Recordei na cabeça toda história, adicionei Com Sol no meu msn e conversamos longamente, eu, ela e o “Pedro Sem Sol”.
Fizeram questão de ligar a webcam e me mostrar os outros dois filhos, dois meninos. Uma viagem no tempo. Me perguntaram se ainda fazíamos os “Churrascos da Morte” ( Nome das nossas festas, onde havia pouca carne e excesso de cerveja). Tive que rir e responder que já não tínhamos mais quase contato, apenas eu sabia de um ou outro aqui e ali. Fiquei sabendo que Pedro tinha aberto uma escolinha de futebol por lá ( O cara nem sabia chutar uma bola!) e que ela , além de mãe, tinha uma pousada e um restaurante na praia. Contei pra eles que tinha marcado de encontrar Ana no centro, para que ela me entregasse uns currículos e eu desse umas dicas sobre entrevistas de estágios.
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Encontrei Ana no mesmo café que seus pais se conheceram. Quase cópia da mãe, um pouco mais alta e talvez com traços suavizados pelos genes de Sem Sol. Mas o mesmo sorriso franco da mãe. Voltei no tempo. E já fui chamando ela de Com Solzinha. Ela riu do apelido e disse que ia sacanear o pai por isso. Peguei os currículos e me comprometi a tentar ajudar. Ela me contou que a mãe sempre quis que ela viesse estudar no Brasil, país que ela aprendeu a amar e nunca mais visitou. E assim que fez dezoito anos, Ana se veio de mala e cuia, repetir os passos da mãe aventureira, a pequena índia Com Sol.
-Tu sabes que teu pai e tua mãe se conheceram aqui neste lugar ? perguntei –
-Não! Verdade ? exclamou Ana com indisfarçavel portunhol.
-Pois é.. Aqui mesmo.. tua mãe comentou isso no msn, quando eu disse que ia te encontrar.
Nos despedimos e Ana saiu ainda encabulada, por ter que encontrar o “tio”, amigo dos pais.
Daqui a pouco vou mandar um email para ela, avisando que consegui o estágio. O que achei muito engraçado dessa história é que após voltar pra casa, troquei de roupa e fui dar uma corrida. Quando liguei o Ipod, começou a tocar a música 11 y 6, do tão presente Fito Paez.
Lembrei na hora de Com Sol e Sem Sol, meu antigos-novos amigos.
Fiquei feliz sem saber bem porque. Talvez por ajudar, talvez pela coincidência cheia de licenças poéticas, ou talvez até porque Punta Hermosa é um dos points de surf do Peru e de repente rolam umas férias com hospedagem gratuita! Ué quem sabe?


Vai aí a letra BELÍSSIMA de “11 y 6” e o link da música.
Obra prima.
Dá pra fechar os olhos e ver o filme do encontro de Com Sol e Sem sol.

Imaginem junto comigo. É pra isso que eu escrevo.


Abraços Lupinos.

Jacques, fim de inverno, ano 2009 do nascimento de JC.

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FITO PAEZ, 11 y 6

En un café, se vieron por casualidad
cansados en el alma de tanto andar,
ella tenía un clavel en la mano.


Él se acercó, le preguntó si andaba bien,
llegaba a la ventana en puntas de pie,
y la llevó a caminar por Corrientes.


Miren todos, ellos solospueden más que el amor y son más fuertes que el Olimpo
Se escondieron en el centro
Y en el baño de un bar,
sellaron todo con un beso.


Durante un mes vendieron rosas en La Paz,
presiento que no importaba nada másy entre los dos juntaban algo.
No sé por qué, pero jamás los volví a ver.
Él carga con 11 y ella con 6,y, si reía, le daba la luna.


26/08/2009

Um outono em mim









Sei lá o que acontece...
Faz um outono aqui dentro
Quanto mais o tal tempo me separa de ti...

Não perco as folhas como a velha árvore..
Mas perco lágrimas por aí..
Perco letras por aqui...

Lá fora
Um sol fraco que não me aquece
Sopra um vento cinza que não te trás
E uma solidão que não me esquece

Apenas espero o inverno
O frio da certeza que você se foi
De que tudo já foi
De que tudo já era
E como as árvores, e seja assim na vida
O outono limpe meus galhos
O inverno cure a ferida
E que eu esteja vazio e tranquilo
Pra esperar a primavera..

Jacques, A farkasember, tél 2009.

04/08/2009

Continuo carregando minha bola...

Praça central de Arroio Grande

Era uma tarde de sábado, frio de inverno, acordei ao meio dia, como sempre faço aos finais de semana. Olhei pela janela do apartamento, belo dia. Sol de inverno. Sem muitas tarefas pela tarde, sem jogo do colorado na tv.. Uma tarde preguiçosa parecia. Em cima da mesa do computador, um dos muitos livros espalhados pela casa : Histórias do Arroio Grande , minha terra natal, que peguei emprestado do meu pai que por sua vez pegou não sei de quem.Me dei conta que das três últimas vezes que estive lá foi para enterros. Nossa! Mas era verdade. A cidade da infância tinha ficado pra trás.Me lembrei que , na verdade, seriam cem quilômetros até lá. Muito perto. Pensei “ Tá aí, vamos sair da rotina”. Almocei, fiz o mate, e solito no más, me acomodei no Citroen e me pus a caminho .Estrada vazia, chimarrão e Fito Paez cantando no ipod, fui pensando nos lugares que iria chegando lá, já que nas últimas vezes só fui em velórios e cemitério. Bem rápido cheguei. Tomei a avenida principal, rumo a praça, coração de toda cidade do interior. E agora? O que fazer aqui? “Contemplação” pensei. Um pouco de contemplação. Me sentei num dos bancos da praça de frente para a prefeitura , me servi do mate e contemplei. Algumas pessoas passeando no sol, dois motoristas de taxi na esquina, o pipoqueiro..A vida passando lenta na cidadezinha, como era antes e espero que seja sempre. Notei que todos que passavam me olhavam com curiosidade, afinal quem era esse estranho sozinho na praça, com um carro de porto alegre e olhar perdido. Fui até os taxistas e perguntei onde poderia conseguir água quente para o mate e eles logo me providenciaram, no fogãozinho da casinha onde se abrigavam. Puxaram-se assuntos e logo a constatação: Um deles, conhecia meu pai, meus tios, lembrava do bar do meu avô, enfim. No interior a gente se torna alguém rapidamente. A árvore genealógica é de conhecimento público. Eu já não era mais estranho. Ouvi até uma história do meu avô, contada pelo taxista com quarenta anos de praça. Agradeci a água e resolvi dar uma volta pela cidade, rever coisas que me lembravam. Caminhando, fui lembrando das ruas e casas, e que em algum momento com certeza eu devia ter “corretiado” por ali. O primeiro lugar que fui foi o“Arroio”, onde no verão tomávamos banho e nos jogávamos do barranco. Depois fui caminhando até o “vinte” (Grupo escolar 20 de setembro) meu primeiro colégio! Passei na frente da casa de alguns amigos de infância,vi crianças e pessoas e fiquei pensando se alguns daqueles não seriam meus amigos crescidos. Por fim, parei na frente da minha ex casa. E do lado da casa de esquina dos meus avós.(Éramos vizinhos). Ali confesso que minha garganta secou um pouco. Fiquei olhando para a porta, esperando. Fiquei me esperando.E daqui a pouco me vi sair.Magrinho, franjinha na testa, lourinho. Apressado com uma bola na mão,descalço. Atrás de mim minha irmã (Milene), meio metro de pessoa e vestidinho xadrez. Pela janelinha da porta , apareceu minha mãe, ainda menina, recomendando alguma coisa que a gente nem ouviu. Fiquei olhando enquanto eu e minha irmã dobrávamos a esquina, correndo pelo passado. Pensei na caminhada até ali. No que separava aquele menino e aquele homem encostado no carro. De como a história da gente passa rápido. De como é breve o caminho.
O menino do Arroio Grande dobrou a esquina com a bola. Pensei em esperar ele voltar sujo e feliz pra casa. Mas não. Era melhor partir , já quase anoitecia.Quando eu dobrava a esquina, vi as crianças que sairam da minha ex casa, esperavam a minha passada para cruzar a rua. Parei o carro e fiz sinal para eles passarem. O menino pegou a menininha pela mão e eles apressadamente cruzaram a rua.
E eu apenas sorri. A vida se repetindo, porque ela se repete sempre. Acelerei e vi pelo retrovisor que eles me olhavam, talvez curiosos pelo estranho que lhes sorria. Acelerei e parti rumo a BR. Durante um breve momento fiquei pensando que devia ter conversado com as crianças. Contado a eles que , assim como eles, eu e minha irmã moramos ali e também saíamos juntos para jogar bola. Igualzinho. Que minha mãe se parecia com a mãe deles, jovem, cuidadosa.Mas não. Poderia até assustar as crianças, um maluco puxando assunto.
Quais seriam os nomes deles? Qual a história daquela família? Ainda tem uma figueira no pátio?
Pra que? Na verdade sei todas as respostas. Seja lá quais fossem os nomes, eles eram Jacques e Milene. Com certeza eram. A história da família com certeza em algum momento se encontraria com a minha. E a figueira com certeza estaria lá. As figueiras da infância da gente sempre estão lá.
Fiquei no caminho pensando, filosofando sozinho, e imaginando o que restava do menino magrinho e sua bola de couro em mim. Ih, deve ter mudado tudo desde aquela época. Sei lá que sonhos eu tinha aos 5 anos. O que eu achava o que era a vida.
Mas foi um belo sábado. De emoções inesperadas, como muitas das boas emoções da vida.À noite, olhando a lua cheia nascer do janelão do meu apartamento, olhei pro reflexo no vidro e vi o menino novamente ali.
Eu mesmo. Embaixo do braço direito, a bola velha de couro. No olhar e no sorriso, os sonhos. Outros sonhos, mas ainda sonhos.
E mesmo sem enxergar, ali no lado esquerdo, meu coração de menino.
Esse não mudou. Se eu posso escrever pra vocês e ainda me emocionar com isso, tenho certeza que ele bate ali, intacto, vadio e inconsequente, como nos tempos antigos do Arroio Grande.

Fito Paez, em toda sua perfeição: http://www.youtube.com/watch?v=RfYmajiaLws

Jacques Lobisomem, inverno glacial 09.

13/07/2009

Veneza

Fotos e filmes by Jacques e Kakau




Estou tentando organizar uma viagem para levar meus pais à Europa no próximo verão. Na tentativa de não ser autoritário e escolher eu mesmo todos os lugares, mostrei algumas fotos e filmes para eles, tentando analisar as reações e os interesses. Meu pai eu já sabia que se interessaria por Roma. Minha mãe era uma incógnita. Aqui no Brasil ela vai todo mês para essas águas termais, não lembro disso por lá. Fiquei imaginando alguns roteiros , que encaixasse uns quinze dias no máximo. Privilegiei Paris e Roma, mas a cada roteiro que mostrava minha mãe perguntava por Veneza. Eu gostei muito de Veneza claro, mas essa "cidade-palafita" (não é pejorativo, é assim mesmo) exerce mais atração no imaginário feminino, com certeza. Não sei exatamente o porquê, mas imagino que a clássica cena de passear numa gôndola evoque uma situação romântica inesquecível para as "meninas". Acho Paris BEM mais romântica , mas enfim... Com certeza não existe lugar no mundo com as peculiaridades de Veneza, encravada numa laguna do Mar Adriático.
A idéia de todos os carros serem lanchas e dos ônibus serem barcos também é bem divertida. Não sei se seria divertido todo dia, mas em uma viagem turística com certeza é. Apesar de todo romance que Veneza desperta, o mais bacana para mim é descobrir outros lados menos conhecidos das coisas. Eu, particularmente, gostei de caminhar a noite, num puta frio, cruzando pontezinhas e entrando em vielas estreitas, tentando entender como aquele povo vive ali. Vai saber...
Ah, dizem que no verão às vezes a água pode emanar um cheiro desagradável. Bom, viva o inverno pra viajar, sempre.
Outro lugar lindo lá é a Ilha de Murano, que fica do ladinho e que pouca gente vai. Os vidros de Murano são famosos e só por sair do burburinho de Veneza por algumas horas já vale. E dá pra ir de busão. Ou melhor, de barcão.
Quem sabe faço do meu blog um guia de viagem ? Bom hein ?
Mas a questão é a seguinte. Veneza está afundando. Agora em dezembro passado, rolou uma enchente imensa e dizem que vai ser cada vez pior. Então , a hora é agora.
Voltar lá vale a pena? Para levar minha mãe com certeza, talvez numa lua de mel também, para os mais devotos do romance clássico. O bom é que uns dois dias já bastam e dá pra seguir caminho conhecendo bem. Bem, nesse post as imagens ajudam mais que as palavras, acho. Então anexei video e fotos que tiramos.




Conheça Veneza antes que ela afunde! Aliás, conheça o Mundo antes que ele afunde.


Hugs!

Jacques Mannaro, Autunno 09.



08/07/2009

A Filosofia dos lobos

Uma das discussões mais antigas da humanidade e que já foi pauta de muitos pensadores e filósofos é sobre o que nos faz diferentes dos outros seres vivos. O que afinal, nos individualiza como espécie e que em última instância permite sermos donos do planeta em que vivemos. Uns dizem que é nossa capacidade de construirmos civilizações, uma após a outra. Alguns dizem que só o ser humano tem a capacidade de discernir entre o bem e o mal. Outros dizem que simplesmente pensamos. Existe a corrente que diz que o uso da linguagem nos torna superiores. E uma corrente mais moderna diz que somos os seres que tem compreensão real da morte, por isso somos únicos. Ah, esqueci da romântica. Capazes de amar. Isso nos faria diferentes.
Acho que é um pouco de todas. Acrescentaria que somos diferentes porque contamos histórias sobre nós mesmos e assim nos compreendemos no tempo. Observando e descrevendo uns aos outros. Assim criamos uma identidade como espécie. Através do tempo, somos um grande conjunto das nossas histórias individuais. Cada vez mais parecidos. Cada vez menos seres unos. Mas toda história que contamos da gente mesmo, tem um lado revelador. Um lado simples e obscuro que nos revela além do comportamento esperado padrão. Lá no fundo, e cada vez menos, vive o nosso Lobo. Selvagem, livre, natural. Cada vez mais suprimido pelo “macaco da homogeneidade”, influências externas e padrões que nos fazem menos “nós mesmos”
Demonizado por religiões cristãs, os lobos sempre foram perseguidos não porque matavam ovelhas e rebanhos, mas porque não podiam ser domesticados e isso na visão destes religiosos, era inconcebível. Na idade média, especialmente, tudo que não se submetesse ao "status quo" era do demônio. Fossem terremotos, eclipses, mulheres-bruxas ou lobos.
A alma , o espírito do ser humano (seja lá o que isso signifique) , ao longo da história sofre tentativas de auto-adestramento. Nós mesmos, em nome de uma pseudo-evolução, vamos nos tornando uniformes e repetitivos. Uma grande cabeça com bilhões de corpos. E matando o lobo que vive em nós.
Acho que a grande característica dessa “uniformização” do ser é que, na regra e como espécie, enxergamos o mundo através da utilidade. Coisas e pessoas. O que esta coisa ou pessoa pode fazer por mim? Mesmo sem saber, essa acho que é a pergunta que fazemos inconscientemente cada vez que nos deparamos com o novo na nossa vida.
Utilidade.
Temos mesmo amigos ou fazemos aliados durante a vida?
Olhamos os outros ou os vigiamos, para nos mantermos sempre atualizados da sua utilidade para nós?
Viver virou sinônimo de esperar. Observar. E dessa observação de uns sobre os outros surge nossa percepção de felicidade. Como o mundo nos vê nos define muito mais do que nossa própria visão de nós mesmos. E só somos felizes se o mundo nos vê bem. O mundo nos agrega e não nós a ele. Não contribuímos mais para a melhoria e evolução da espécie, apenas replicamos indefinidamente valores comuns. Quando falo assim não falo de todo ser humano , óbvio. Mas a verdade é que essas pessoas estão por aí nas nossas vidas e com certeza temos muito mais delas do que gostaríamos de admitir.
Conhecendo os lobos e aprendendo obviamente por metáforas e sem radicalismos interpretativos, a gente pode entender muito mais sobre amizade, doação, sacrifício e individualidade. Falo dos lobos, talvez estudando outros animais pudesse falar das girafas ou dos dragões de komôdo.
Mas não vou me estender sobre o bicho.
Enfim , se a humanidade vai se conhecendo contando histórias de si mesma , eu vou escrevendo as minhas. Um pouco pra achar esse meu lado obscuro, que se manifesta quando a gente externaliza o que pensa, falando ou escrevendo.
Outro tanto pra que meu lado macaco, igual, não sufoque por completo meu lobo.
Fico pensando se essa coisa que todos temos no peito, essa incógnita sobre quem somos, de onde viemos e pra onde vamos, essa constante inconformidade e complexidade que nos caracteriza como seres humanos, essa eterna melancolia de viver, não é a mesma dos lobos, resolvida e comemorada com um simples uivo a plenos pulmões pra lua cheia.



"Quem só tem o espírito da história não compreendeu a lição da vida e tem sempre de retomá-la. É em ti mesmo que se coloca o enigma da existência:ninguém o pode resolver senão tu!"
Friedrich Nietzsche




07/07/2009

A vida e a fresta da janela


Chamonix Mont Blank, Alpes Franceses, visual da janela do hotel

Era por uma fresta na janela que um risco de sol entrou e mostrou que a chuva do dia anterior tinha passado.
O luz do DVD piscando e o ar que liga e desliga são o que sobrou da noite que se foi.
O sábado que anoiteceu chuvoso e frio, amadureceu num domingo claro e cheio de sol. A fresta da janela ao menos mostrava isso.
Faz um belo dia lá fora.
Não é cedo não. Se acordou tarde, já é mais de dez da manhã. A noite fria pôs os edredons na cama e o cheiro bom de quem se gosta é mãe de todas as preguiças..Levantar..almoçar.. ir ao sol... Sim..sim..
Mas depois..bem depois
Entre vira pra cá e vira pra lá, risos e espreguiçadas, esticadas longas de braços e pernas, a manhã continua.
Quem toma ou não toma banho? Quem levanta ou não levanta primeiro?
Por favor.. tem que levantar..
Faz um belo dia lá fora.
As pessoas devem estar no Parcão , na Redenção, no Laranjal, na Lagoa da Conceição, caminhando com o mate, os cães e os carrinhos de bebê. E nós aqui, atirados ?
Onde almoçar ? Aqui ou ali. Onde tomar café, cá ou acolá. Quanta dúvida!! Qualquer lugar serve, mas temos que levantar afinal..
Faz um belo dia lá fora..
“Ah, vai ver se tá calor!”
“Quer um iogurte?”
“Trás água , por favor”
O risco de sol até já mudou de ângulo, passou o tempo e nós ainda aqui, com esse belo dia lá fora..
Então vamos levantar..
“Cadê minha blusa?”
“Cadê minha meia ?”
“Acha minha calça, tu que tirou e jogou longe...”
Já nem tem mais risco do sol na janela. Deve ser meio dia
Se procura a chave do carro, carteira que não se acha..
“Almoçar lá?”
“Vamos”
Ainda bem que o carro tá quente , pegou um pouco do sol da manhã.
“Nossa, que dia lindo, e a gente ali deitado de preguiça..”
“É, faz um belo dia aqui fora”
O barulho do trânsito..
Do rádio..
Os pneus trocando da pedra pro asfalto..
O silêncio..


Faz um belo dia aqui dentro da gente..

Jacques, inverno longo, 09

02/07/2009

Espiando pelas porteiras do mundo


Conheço cento e vintes poucas cidades no RS. Vinte capitais brasileiras. Muitas cidades do interior em Santa Catarina, São Paulo , Rio , etc. Barcelona, Roma,Veneza, e algumas outras da Europa. E Paris claro, que é pra onde sempre quero voltar. Viajar está no meu sangue. Meu trabalho também me dá essa opção e acho que é por isso que faço o que faço. Viajar é tão necessário na alma do ser humano quanto sorri
r ou refletir. O que é a vida senão uma longa viagem no tempo. Pois muitas das minhas histórias aprendi e vivenciei em minhas viagens. E as talvez as mais ricas e edificantes não tenha se passado nos Alpes Franceses ou na Toscana Italiana. Porque viajar é logo ali também.


Ia eu com minha camionetazinha Dakota ( que o céu a tenha, um caminhão montou em cima dela) de Porto para Santa Rosa, onde eu daria uma palestra na semana acadêmica da faculdade local. Lá pelo meio da viagem, não sei ao certo onde, acho que ficava entre a Cidadezinha do Nada e o Povoado do Lugar Nenhum, um brigadiano me parou no meio da BR . Abri a janela do carona, ele se aproximou. Meteu o cabeção suíno ( brincadeira gaúcha!) na janela. Acho que pensou em desistir quando me viu de terno e gravata. Mas já estava ali, então meio sem jeito, falou :
-Desculpa incomodar chefe, mas aquele senhor ali quer precisa de uma carona até a cooperativa , fica uns 30 km à frente. Mas se o senhor não puder dar, tudo bem.
Olhei para o velho agricultor atrás do brigadiano. E meio no automático respondi :
-Claro. Suba aí, meu senhor.
O velho senhor já ia se movendo para a caçamba. Achei muito engraçado a cena:
-Não, não, aqui na cabine comigo. Se o senhor for aí, a “Federal” me mete uma multa.
O senhor entro meio sem jeito, tirou o chapéu e agradeceu.
E iniciamos uma bela prosa durante aqueles trinta quilômetros. Quando parei pra ele saltar, me convidou :
-Se o senhor anda com tempo tome um café comigo ali na venda da cooperativa. Para agradecer a carona.
Eu ia recusar, mas como estava bem adiantado mesmo e ia chegar bem antes em Santa Rosa, aceite. E lá foi mais meia hora de papo.
Que assunto teria um bundinha engravatado de Porto Alegre e um humilde agricultor da Terra do Nada ? Se me perguntassem antes, diria que nada. Mas falamos de tudo desde o plantio tardio do milho por causa da chuva, do porco premiado do seu Firmino ( O nome do caroneiro ) e até da ida do filho mais velho dele pra estudar na capital.
-Bom, mas então tá seu Firmino. Vou puxar minha carreta senão a gurizada da faculdade não vai me ver falar mais tarde!
-Boa viagem, meu guri. E na volta passa ali em casa. Bate palma na porteira que a cachorrada late e a gente vem lá de dentro. Mas passa mesmo, vou lhe dar uma figada que a minha esposa faz que é louca de especial !
-Então tá, vou passar.Abraço!

Ia passar nada. Claro que não. Mas a gente diz que vai passar né? Pseudo-educação.

Voltando entao de Santa Rosa, dever cumprido no dia seguinte, no caminho me lembrei do seu Firmino. Era umas onze da manhã e pensei :” Taí , vou passar na casa do seu Firmino. Que mal tem filar um rango campeiro ?”
Bati a campainha de colônia (palmas) e logo a cachorrada veio se botando na portera. Em seguida aparaceu seu Firmino :
-Mas bá, que bom, o doutor resolveu parar então. Coisa boa! Chegue, chegue que os cusco não mordem. Pode se chegar.
Entrei e realmente eles não mordiam. Mas ser cheirado por dez cachorros juntos e ao mesmo tempo é uma das experiências mais bizarras que já passei, Mas enfim. Entrei

Dentro da casa, Dona Maria, esposa do seu Firmino, esperava em pé, na porta da sala, para cumprimentar o moço da gravata( Eu , no caso).
-Maria , o seu “Jaque” foi o moço da capital que me deu carona até a cooperativa lembra? Vai almoçar conosco. Manda chamar os guris ! Os guris eram filhos e filhas , que estavam na lida, imaginava eu.
Logo chegaram e eram cinco, de escadinha. O mais velho tinha 17, depois duas meninas de 16 e 14,
um guri de 12 e outra menininha temporã de 7. Família gradeeee!!!
Todos meio sem graça com o estranho, mas todos bem educados apertando a mão inclusive. Vi que as meninas ficaram com vergonha , acho que da roupa de trabalho e foram correndo pro quarto, para se trocar.
A casa era muito bonita, simples mas com cara de lar e extremanente limpa e bem cuidada. E os filhos, apesar do indisfarçavel sotaque campeiro, se puxavam para falar todos os esses do português.
O almoço foi um espetáculo. Galinha campeira e arroz com pêssego, uma salada verde completa e muito pão feito em casa. O vinho estava presente, mas não bebi, já que tinha cinco horas de estrada pela frente. Seu Firmino me pediu para falar da vida da capital, dar uns conselhos para o seu filho e dar algumas sugestões de onde morar por lá. Conversamos também sobre política, futebol e amenidades. Um belo almoço em família.
Na saída, depois de um belo café passado por Dona Maria, vieram os presentes. Para meu espanto, até um porquinho congelado ganhei ( pelo menos não estava vivo o bicho ). Goiabada, figada, uns araças faceiros e uns ovos da colônia bem vermelhos.
Parti.
Na viagem fui pensando no momento bacana que tinha vivido. Sentado a mesa com uma família estranha, resultado de uma simples gentileza minha. Que mundo diferente aquelas pessoas tinham do meu e nem por isso deixamos de rir e aproveitar o almoço juntos. E por fim, ficamos até amigos.
Me fez lembrar do “apartheid civilizatório” do mundo moderno, onde não cumprimentamos às vezes nem nossos vizinhos de porta. Que bom seria ter seu Firmino e família como vizinhos.

No ínicio do outro ano, hospedei o filho do seu Firmino por uma semana lá em casa. Tempo que ia demorar para o quarto de pensão onde ele ia morar desocupar, ali no centro. Levei o guri na Dublin, ali na Padre Chagas e o coitado passou a noite toda de boca aberta de “ tanto ver moça bonita” nas palavras do próprio. O guri hoje está no meu msn e sempre mando abraços para seu Firmino e família e os recebo também. Dia desses ainda, recebi um doce de figo que Dona Maria tinha preparado.

História simples essa minha. O final que escrevo agora não tem nenhuma mensagem ou rebuscamento. Mas que histórinha bonita né ? De gentilezas, de lembranças, de favores mútuos.A gente que vive na selva, corre sempre o risco de deixar passar as coisas simples do dia a dia. Mas gosto de saber que, no meio da loucura, ainda vive por lá aquela família. Plantando, colhendo, numa vida simples e feliz. Isso me encanta. A sofisticação do simples. Afinal, o mesmo pôr do sol que assisti da Torre Eiffel, está disponível em versão não menos encantadora ali na quarta colônia de Santa Rosa.

Vamos parar nas porteiras do mundo e olhar para dentro delas. Tem um monte de coisa para aprender por lá.

Pré-summer, já escaldante, 2006.

25/06/2009

As Pequenas Grandes Coisas (Chocolate Girl)



 
Não espera de mim te levar a um refinado jantar
Não combino com esse lugar
Mas jantaremos juntos sempre que der
Perto do fogo
Te ouvindo falar

Não vamos de primeira classe
Mas vamos.. sempre iremos
Quero conhecer novas coisas
Mas sempre contigo
Não adianta nada conhecer
Se eu não puder te mostrar

Nossos sábados não serão glamurosos
Mas espero que seja o mesmo sábado, o meu e o teu
Quatro meias brancas num puff verde
Enroscadas pro frio passar

Nossos sonhos.. Grandiosos? Não serão...
Mas serão imensos
Porque todos os bons sonhos o são

Ah,
Um caminho certo nosso é o do mar
Pra mim, ondas
Pra ti, vento
Pra nós, sorte
Pra nós, tempo...
 
E em homenagem a tudo dar certo
Não te darei dúzias de rosas vermelhas
Aquelas com cartão dourado escrito em marfim
Não, não...
Te darei uma florzinha do Super, de vasinho
Com um bilhete :
"Cuida dela, como cuidas de mim"
 
 
Jacques, Froid Satolep, hiver 2009
.
 

23/06/2009

Atalhos para Deus


Os católicos são os donos da verdade e sempre venderam a hipocrisia do que não praticam.
Os protestantes são iguais. Apenas não queriam ter o mesmo chefe e resolveram protestar.( A primeira igreja protestante surgiu porque o rei da inglaterra queria comer uma mulher que não era a dele e o Papa não deixou)

Os espíritas são os que mais tem medo da morte.

Os muçulmanos jogam bombas e mesmo os que não jogam, tentam justificar os que jogam...

Não, obrigado.

Quando Deus quiser falar comigo, ele me chama.
(Espero que demore, tá bem bom aqui...)

Jacques, Satolep cinza, 09

21/05/2009

Três semanas na Cidade dos Carequinhas & sobre romances de verão


Uma e meia da madrugada de quatro de maio passado. Madrugada do meu aniversário. Meu pai estava sendo operado pela segunda vez em quarenta e oito horas. Da primeira cirurgia, restou um sangramento interno, e que descoberto tardiamente, fez com que ele fosse operado às pressas novamente. Eu estava sozinho no hospital, no quarto do meu pai. O resto da família tinha ido pra casa descansar. De nada adiantava estarem ali. No meio daquela madrugada longa, muitas coisas juntas criaram uma atmosfera perfeita para reflexão. A solidão no meu aniversário, o tempo passando pra mim, demonstrado não só pelo aniversário, mas também pela possibilidade de perder alguém. Até pra mim, que convivo muito bem com a solidão, velha amiga e parceira de caminhada, momento difícil. Normal se sentir fraco, mas hora de ser forte. De repente você se dá conta que é TUA a responsabilidade. O topo da cadeia de comando é teu. Os valores foram invertidos. Teus pais são frágeis agora. Não há pra quem recorrer.
Três e meia da manhã, uma enfermeira abre a porta do quarto e me diz :
-Olha , pediram pra ti subir no bloco cirúrgico agora...
Tudo passou pela minha cabeça.. E agora? E se for o pior? O que fazer? Como contar pra minha mãe? E meus sobrinhos ? Tudo passa pela cabeça da gente.
Mas subi e não me apavorei. Cheguei no tal Bloco e o enfermeiro me disse que meu pai tinha acordado agitado e estava muito nervoso. E embora não pudessem entrar parentes ali, eu devia entrar e acalmá-lo. Vi meu pai ali no pós operatório mais enfraquecido que nunca.. Chorando, assustado, como um bebê. Pedindo pra ir embora. Ali testei minhas fortalezas.. Me auto afirmei. Fiquei firme, não mostrei fraqueza. Disse pra ele se acalmar, que tudo tinha dado certo e que estava tudo bem. E amaldiçoei a enfermeira que foi me chamar. Podia ter me dito que era APENAS meu pai que queria falar comigo. Não precisava daquele baita susto. Se bem que no fim foi bom..aquela distância entre o quarto e a UTI foi percorrida também por muitos pensamentos e indagações. No outro dia, início da noite, meu pai voltou para o quarto na Cidade dos Carequinhas. Cidade dos Carequinhas é o Hospital Santa Rita, especializado em Câncer da Santa Casa de Porto Alegre. Ainda está no hospital, quase duas semanas depois, mas agora está praticamente bom e aguardando o médico dar alta apenas. Ufa.
Muitas lições me foram dadas nestas duas semanas. Sou daqueles que acredita que, mesmo de algo assim, coisas boas vão surgir. Eu ao menos, sempre acabo enxergando outras histórias dentro da principal. E quase sempre, são recheadas de aprendizado e exemplos. Como o menino de vinte e três anos, carequinha típico de quimio, que entrou no elevador comigo e acabou meio que meu amigo de corredor de hospital. E me confidenciou :
- As pessoas tem medo ou ficam estranhas pra falar comigo por causa da doença, então não converso muito por aqui...- pensei em como o ser humano é cruel sem perceber..
Ou na mãe que vi sendo consolada por duas médicas, dizendo não aguentar mais ver a filhinha sofrendo – Ali só suspirei e engasguei...
Enfim, coisas que se vê em um lugar onde todos estão sem querer estar. Mas na real o importante é passar por essas coisas da maneira mais leve possível. E leveza sempre é possível, as vezes em doses gigantescas , as vezes em homeopáticas.
Saí melhor do que entrei nisso.
Como diria Mano Brown, filósofo da rua, até no lixão nasce flor..

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Mas o que isso tem a ver com romance de verão ?
Coisa chavão é dizer que a gente conhece as pessoas na hora da dor. Da dificuldade. Escutamos isso toda hora por aí. Mas só vivenciando comprovamos essa teoria.
No início de dezembro conheci uma menina. Mulher na real. Mania minha de chamar de menina. Linda demais, formamos o típico casal “A princesa e o ogro” sabem? Moça bonita e cara feio. Mas desde o início, tratamos como um belo romance de verão. E foi. Passamos natal juntos, bebemos muita champanhe nos findis, curtimos Santa catarina juntos. Muito bom. Com prazo de validade. Mas nem por isso, menos honesto e bacana, Romance “fogueira-de-graveto” : Quente, vistoso e rápido. No final de fevereiro, cumprido seu papel, o romance se auto-extinguiu. Como deveria ser, sem traumas, sem choros. Tudo na boa.

Amigos.

Para minha surpresa, essa moça se interessou muito por mim e pela situação do meu pai, mesmo não tendo mais nenhum interesse romântico na história. Nenhum mesmo. ( a gente sabe quando as pessoas ficam na volta por outras razões, certo?) E isso de alguma maneira, pela forma como ela se interessou me comoveu muito.
Me marcou. Bom isso. Realmente é muito triste essa história de que “Se você não trepa mais comigo, não é importante pra mim!”
Enfim, um ser humano desinteressado. Não era minha parente, nem amigo próximo, nem fazia parte do meu círculo. Apenas alguém gentil e bacana, sem motivo algum pra ser. Raridade hoje em dia. Isso ainda foi mais notado porque lembrei de gente que talvez devesse estar do meu lado e não estava. Coisas da vida. Tristes, mas da vida.
Essa noite mudou algumas coisas pra mim. Amanheci liberto de muitas das minhas vergonhas, muitas sensações ruins sobre atitudes minhas ficaram pra trás. Pra quem eu devia, tudo foi pago naquela noite. A indiferença e o vazio dessas pessoas me absolveram. Amanheci melhor do que dormi. E acho que aprendi de vez por todas que ninguém é melhor que a gente. Tudo são circunstâncias. E infelizmente as pessoas, e ai me incluo nas minhas imperfeições, agem de acordo com o que lhes interessa. Simples e frio. Mas verdadeira constatação.

Escrevo então em homenagem ao estranho que me estende a mão. Ao moço que ajuda a senhora na rua. Ao motorista que nos dá a vez. Enfim, a gentileza que ainda reside nas pessoas e que nós precisamos exaltar porque é o que mantém a esperança de que um dia, todos nós, seremos melhores do que somos.

Aproveitem sua estada. É curta.

Jacques, outono, 09.

=x=x=x=x=x=x=x=x=x=x=x=x==x=x=x=x=x

Meu pai já saiu do hospital agora e está em casa, após quase vinte dias. Só pra constar e pra Flaviana, moça do romance de verão, saber.