Mude o mundo

09/09/2010

Quem tem um , tem tudo

Post com musiquinha pra ti ! Liga o som!
Chiquinho e Tonico se conheceram lá pela década de 40, moleques, numa ruazinha de terra no bairro Areal em Saint Satolep. O pai do Tonico tinha vindo do Rio de Janeiro, era militar e veio morar na cidade. Frequentavam o mesmo coléginho municipal, jogavam bolita juntos e brincavam nas poças de chuva. Depois adolescentes, foram ao primeiros bailinhos juntos, tomaram o primeiro trago de cair e serviram o exército na mesma época. Quando saiu do quartel, Tonico começou a namorar Heloísa, a Lolô, prima de Chiquinho. Dois anos depois, ainda muito jovens casaram. Chiquinho casou mais tarde, com vinte e quatro anos, com uma colega sua de trabalho que conheceu pouco tempo depois que foi admitido como escriturário no. Banco Pelotense. Aos trinta anos, Tonico tinha dois filhos e Chiquinho dois. Dois anos mais tarde, Dona Heloísa, antes Lolô, veio a ter grave enfermidade e faleceu, muito jovem ainda, deixando seu Tonico arrasado e com dois filhos pequenos pra criar. Como trabalhavam só a tarde no Banco, Chiquinho e a esposa ficavam todas manhãs com os meninos de seu Tonico, para ele cuidar do seu negócio, uma pequena marcenaria. Aos quarenta anos, Chiquinho havia já deixado o Banco e cuidava de próspero negócio : Uma fabriqueta de envase de pêssego, comprada anos antes em sociedade com dois colegas de banco, havia virado negócio promissor e seu Chiquinho logo se destacava no meio econômico-social da cidade. Seu Tonico ainda tocava sua marcenaria, que com um pequeno empréstimo conseguido junto a Chiquinho, agora tinha serras novas e maquinário de polimento moderno, importado do estrangeiro. Chiquinho adquirou uma mansão no Balneário Santo Antônio e Tonico foi o responsável pela construção da maioria dos móveis da residência : “ Trás apenas a madeira, Chico !”


Depois de uma década viúvo, Seu Tonico casou de novo, e Seu Chiquinho e Dona Lolô foram os padrinhos de casamento. Se quando moleques jogavam bolitas , agora a dupla era adepta da bocha, e faziam uma parelha vitóriosa, terceira colocada no citadino Pelotense de 81. Vieram os netos de ambos e as festinhas eram compartilhadas. A casa na praia juntava as famílias.

Também foram companheiros na pescaria, onde embarcados pescavam ali na Torotama, na ida para Rio Grande.

Aos 78 anos seu Chiquinho teve o primeiro infarte. Colocou uma safena. No ano seguinte, outro e nesse perdeu grande parte da capacidade do coração. Aos 80, foi achado morto pela esposa sentado na cadeira de balanço da varanda da casa da praia, com expressão tranquila e serena.

No velório, centenas e centenas de pessoas. Seu Chiquinho foi homem querido na comuna. Coube a encomenda ao seu Tonico, o marceneiro, dizer algumas palavras de despedida. Fez-se silêncio a beira do túmulo do cemitério-jardim.

Tirou do bolso emocionado duas folhas, datilografadas a punho, durante a madrugada.

Secou as lágrimas, olhou para os netos, filhos, amigos..Respirou fundo do alto dos seus também oitenta anos.

Olhou para o papel em suas mãos e calou antes da leitura. Parecia refletir..Olhos ao longe, projetados ao horizonte, sorriu.

Guardou lentamente as duas folhas datilografadas no bolso do paletó.

O semblante se iluminou e surgiu um sorriso no rosto cansado.

Colocou a mão sobre o caixão.

Olhou com serenidade para o rosto ancioso de todos presentes.

E apenas declarou :


-Amigos. Fomos AMIGOS!


As palmas pontuaram a frase e invadiram o lugar. Não havia mais nada a dizer.

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Minha homenagem tardia ao Dia do Amigo. Aos meus, aos seus, a todos que são e tem um amigo


Quem tem um, tem tudo!





Lobisomem rumo a Cordilheira, setembro 2010.

2 comentários:

Palavras de mulher. disse...

Como dizia o outro: "amigos são pontes que nos levam muito mais longe de nós mesmos"...parabéns...sempre boas e belas narrativas...beijo!!!

Anônimo disse...

Meu pai foi meu melhor amigo.Nesse ano fará um ano que ele se foi.Saudades eternas.
Fiquei emocionada ao ler essa sua narrativa.
Maravilhoso é poder expressar dessa forma pensamenos tão seus.
Um abraço.