Mude o mundo

08/09/2009

Com Sol e Sem Sol




Era um domingo de manhã de maio e Pedro estava sentando numa mesa do Café Aquarius. Tinha acordado tarde naquele domingo e não achando mais lugar para almoçar em Satolep, resolveu recorrer ao bom e velho a la minuta do Café. O lugar lotava no domingo e ele, sozinho, saboreava seu almoço e bebia uma Coca para remediar o trago do sábado. Consolacion entrou apressada, queria comer um sanduíche e rumar para a Feirinha do Artesanato, onde vendia coisas típicas de Punta hermosa, cidade costeira Peruana , de onde ela tinha chegado três meses atrás. Não tendo onde sentar, a indiazinha pediu ao desconhecido e branquelo Pedro, com sotaque carregado:
-Posso me sentar aqui?

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Recebi um email semana passada de uma menina, Ana, que me contava estar no Brasil fazia um mês e pouco. Tinha vindo do Peru, através de um intercâmbio, estudar comércio exterior. Tinha chegado até meu nome através dos pais, Consolacion e Pedro, que descobriram através de antigos amigos que eu trabalhava na área e podia ajuda-la a conseguir um estágio. Bá! Quanto tempo não ouvia falar dessas figuras? Vinte anos ? Por aí.
Pedro era da minha turma de adolescência e Consolacion acabou incorporada quando se tornou sua namorada. Depois de um tempo ela engravidou e ambos resolveram ir para o Peru ao menos até a criança nascer, pois no Brasil ambos teriam dificuldades para criar sozinhos a criança. A última vez que os vi foi justamente na festa de despedida. Nunca mais tinha falado com algum deles.
Mas lembro bem deles. Pedro era um cara alto e brancão, sempre com roupas escuras estilo metal/dark e todo tímido. Já Consolacion era uma índia alegre e despachada, que divertia a gente com seu sotaque e curiosidade pelas coisas do Brasil. Logo ela ganhou o apelido de “Consol” que falando ficava “ Com Sol “ mesmo. E ele, como namorado e também em função da alvidez da pele e timidez, passou a ser o “Sem sol”. E a gente se divertia com aquele casal , a Com Sol e o Sem Sol.
Recordei na cabeça toda história, adicionei Com Sol no meu msn e conversamos longamente, eu, ela e o “Pedro Sem Sol”.
Fizeram questão de ligar a webcam e me mostrar os outros dois filhos, dois meninos. Uma viagem no tempo. Me perguntaram se ainda fazíamos os “Churrascos da Morte” ( Nome das nossas festas, onde havia pouca carne e excesso de cerveja). Tive que rir e responder que já não tínhamos mais quase contato, apenas eu sabia de um ou outro aqui e ali. Fiquei sabendo que Pedro tinha aberto uma escolinha de futebol por lá ( O cara nem sabia chutar uma bola!) e que ela , além de mãe, tinha uma pousada e um restaurante na praia. Contei pra eles que tinha marcado de encontrar Ana no centro, para que ela me entregasse uns currículos e eu desse umas dicas sobre entrevistas de estágios.
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Encontrei Ana no mesmo café que seus pais se conheceram. Quase cópia da mãe, um pouco mais alta e talvez com traços suavizados pelos genes de Sem Sol. Mas o mesmo sorriso franco da mãe. Voltei no tempo. E já fui chamando ela de Com Solzinha. Ela riu do apelido e disse que ia sacanear o pai por isso. Peguei os currículos e me comprometi a tentar ajudar. Ela me contou que a mãe sempre quis que ela viesse estudar no Brasil, país que ela aprendeu a amar e nunca mais visitou. E assim que fez dezoito anos, Ana se veio de mala e cuia, repetir os passos da mãe aventureira, a pequena índia Com Sol.
-Tu sabes que teu pai e tua mãe se conheceram aqui neste lugar ? perguntei –
-Não! Verdade ? exclamou Ana com indisfarçavel portunhol.
-Pois é.. Aqui mesmo.. tua mãe comentou isso no msn, quando eu disse que ia te encontrar.
Nos despedimos e Ana saiu ainda encabulada, por ter que encontrar o “tio”, amigo dos pais.
Daqui a pouco vou mandar um email para ela, avisando que consegui o estágio. O que achei muito engraçado dessa história é que após voltar pra casa, troquei de roupa e fui dar uma corrida. Quando liguei o Ipod, começou a tocar a música 11 y 6, do tão presente Fito Paez.
Lembrei na hora de Com Sol e Sem Sol, meu antigos-novos amigos.
Fiquei feliz sem saber bem porque. Talvez por ajudar, talvez pela coincidência cheia de licenças poéticas, ou talvez até porque Punta Hermosa é um dos points de surf do Peru e de repente rolam umas férias com hospedagem gratuita! Ué quem sabe?


Vai aí a letra BELÍSSIMA de “11 y 6” e o link da música.
Obra prima.
Dá pra fechar os olhos e ver o filme do encontro de Com Sol e Sem sol.

Imaginem junto comigo. É pra isso que eu escrevo.


Abraços Lupinos.

Jacques, fim de inverno, ano 2009 do nascimento de JC.

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FITO PAEZ, 11 y 6

En un café, se vieron por casualidad
cansados en el alma de tanto andar,
ella tenía un clavel en la mano.


Él se acercó, le preguntó si andaba bien,
llegaba a la ventana en puntas de pie,
y la llevó a caminar por Corrientes.


Miren todos, ellos solospueden más que el amor y son más fuertes que el Olimpo
Se escondieron en el centro
Y en el baño de un bar,
sellaron todo con un beso.


Durante un mes vendieron rosas en La Paz,
presiento que no importaba nada másy entre los dos juntaban algo.
No sé por qué, pero jamás los volví a ver.
Él carga con 11 y ella con 6,y, si reía, le daba la luna.


Um comentário:

Anônimo disse...

Por que o menino só tem 3 dedinhos? Eu achei lindoooooooooooooooooooos.