Foto : Ilha de Murano, veneza, By Cláudia, fevereiro de 2008.
Em dois momentos diferentes, em semanas anteriores, eu falava para meus alunos e para um platéia de empresários. Em ambas, o assunto era a crise financeira e a eventual mudança de rumos na economia americana com a eleição que se aproximava. Em ambos os casos, tive que medir as palavras para não sair do viés técnico e entrar no filosófico-emocional. Porque poucos assuntos ultimamente podem despertar tanta curiosidade e paixão quanto a eleição de Barack Obama para a presidência dos EUA. Me lembrou, salvo as devidas proporções, a eleição do Presidente Lula. Mesmo quem não votou nele, sabe da importância sob o ponto de vista sociológico do que foi eleger um metalúrgico nordestino Presidente do Brasil.
Mas Obama representa muito mais. Obama representa uma juventude mickey mouse debilóide indo as urnas em massa pela primeira vez. Obama representa negros que a ralos cinquenta anos atrás não podiam dividir lugar nos ônibus com os brancos e ainda eram queimados amarrados a árvores. Representa a ascensão das mulheres. Afinal negros e mulheres tem muito em comum quando o tema é discriminação. Obama é a África abandonada, o Quênia onde nasceu seu pai e onde vivem muitos de seus parentes. Mas muito mais do que ele é, agora é importante falar do que esperamos que ele venha a ser.
Que ele seja o freio dos tanques americanos no Iraque e Afeganistão. Que consiga, mesmo que lentamente, trazer seus garotos-guerreiros de volta pra casa e que dê a eles a oportunidade de votar, como tantos nessa eleição.
Que ele ajude a outros negros de seu país, pagando uma conta secular de falta de oportunidades e condições de educação eqüitativas.
Que liberte Cuba de um bloqueio insano e desumano, que persiste por anos a fio, sem o menor sentido.
E que se não for pedir demais, que lidere seu país para uma época de multilateralidade e diplomacia, sem os arroubos bélicos do cowboy Bush.
Bom , e vai que não mude nada? Que o tal Obama não consiga sozinho fazer nada de bom ou até mesmo não queira fazer ? Vai saber...
Mas ter esperança já é algo bom. Faz tanto tempo que não se sonha com um mundo melhor, não é? Se não me engano, o último que tentou foi um cabeludo de Liverpool e acabou baleado na porta de casa.
Jacques, spring 2008 .
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