Mude o mundo

19/09/2008

O choro de Mariana



Ouvi essa história da boca da própria.
A Mariana tinha 20 anos mais ou menos. Morava em Floripa, mas era nascida mais para o interior. Namorava Fulano desde os 14 anos ( Coisa aliás que devia ser proibida pela Constituição a meu ver, namoro aos 14 anos). Já estava bem empregada em um banco e muito bem encaminhada na faculdade de Administração. Tinha sua melhor amiga, Ciclana, que conheceu na facul ajudando a fazer os trabalhos de Logística. Era dezembro e Mariana estava de casamento marcado para março. Igreja reservada, convites escolhidos, enfim. Todo show montado. Mariana era muito dedicada ao namorado e a melhor amiga. Aliás, dos três, era a mais bonita, mais bem sucedida e mais bacana.
Final de ano, uma festa na cidade de origem do casal, Fulano liga e pergunta se Mariana vai. Ela, querendo fazer uma boa surpresa “pro namo” como dizem meus alunos, diz que não vai poder ir, mas já planejando chegar depois e alegrar o amado. Às 21 horas do dia 30 de dezembro, chega na festa sem avisar.
Num canto , perto do banheiro, muito mais do que por acaso, vê o futuro marido aos beijos com a melhor amiga.
Virou as costas, entrou no carro, voltou pra Floripa. Foi chorar 24 horas depois. Mas chorou meses sem parar.
Aos 20 anos, no explendor da vida, ela se acabara.
Somos criados, desde pequenos, para termos alguém. A mídia, nossos pais, enfim, a sociedade , nos
cria ensinando que, só teremos sucesso e seremos felizes ao encontrar nossa “alma gêmea”. Para as meninas então, chega a ser uma crueldade o que o mundo faz. A cobrança começa cedo e nas reuniões de família, a moça de 30 anos, interessante e bem sucedida, porém solteira, é comentada pelas tias como “gênio difícil”, “trabalha demais”, “nenhum rapaz dura com ela”...
E os caras também sofrem! Minha mãe mesmo, tem 3 netos que são as crianças mais lindas do planeta, e todo almoço de domingo que estamos juntos diz “ Esse guri não casa! Esse não vai me dar netos...” ????
E essa pressão toda que sofremos, day-after-day, nos empurra a acreditar que, ou nos enquandramos no modelo ou nossa chance de ser feliz é zero. E o nosso próprio subconsciente, abastecido pelo mundo lá fora, nos faz viver como Mariana na sua juventude : Mal-acompanhados em boa parte da vida. De todas as idéias, talvez a que seja a maior causa de infelicidade emocional nesse mundo, é que TODO ser humano tem uma alma gêmea SEMPRE. Pensem comigo, meus queridos. Se isso é algo tão especial ( E realmente acredito que seja) é provável que todo ser, na sua caminhada terrestre, encontre de fato sua “soul-mate”?? Não. A vida, a natureza e Deus sempre nos deixaram conviver com a aletoriedade. Alguns são ricos, outros pobres. Uns brancos, outros pretos. Uns bons. Outros maus. E uns viverão histórias de amor raríssimas e belas. Outros e com certeza, a maioria, não. Mas e esses pobres mortais sem amor ? Que triste notícia ! Não posso mais sonhar com isso, não posso mais ter esperança? A única e ai realmente eu digo a única, diferença entre homens, macacos e golfinhos é que nós temos esperança. Os golfinhos e os macacos amam, criam seu filhos, tem seus valores...Mas não sonham com o amanhã melhor. Vivem o dia de hoje. Vivem a benção da vida sol em sol. Ah tá então vamos parar de ter sonhos e esperanças e viver só o dia de hoje para sermos felizes? Acho que não. A esperança é uma benção nossa. Da nossa espécie. O credo de que o amanhã será melhor é o que nos faz homens e mulheres. Mas com certeza , condicionar nossa felicidade a um relacionamento perfeito que TALVEZ um dia chegue, não me parece ser a maneira mais inteligente de viver. Pensando sobre isso e na história da Mariana e da sua escolha péssima ( Hoje ela ri quando lembra ter se apaixonado por um cara daqueles), concluo que conseguir ser um “bem-sozinho” é o que pode nos fazer feliz de fato. E também é o que pode nos aproximar da felicidade. Em par ou sem par, não importa. Somos o grande amor das nossas vidas, não me resta dúvida. E esse amor com certeza não é construído no futuro ou na esperança. Ele é construído na decisão diária que tomamos de viver melhor com o que a gente tem hoje. Parece bem simples falando mas é muito complexo, todos nós sabemos.
Enfim, que se ande só, como eu e uns de vocês andam agora. Que se olhe para frente, com esperança e sonhos sim, mas que se olhe para o lado, e se não houver uma mão pegando na sua, junte a direita com a esquerda. Reze, ou se alongue sei lá. Mas lembra que tu mesmo pode pegar na tua mão. Que se olhe para trás também, porque provavelmente o caminho que passou é muito parecido com o que vem por aí. O caminho não muda muito. A gente é que muda. E depois de olhar para frente, pros lados e pra trás, que se olhe pra dentro. E se a gente enxergar lá dentro nossa tristeza por andarmos sozinhos, que se chore como a Mariana chorou naquele dezembro. Não importa. Que o choro nos regue a esperança e nos faça melhor do que quando começou.

E que a gente não esqueça, de que se a gente não anda bem acompanhado de si mesmo, não anda bem acompanhado de ninguém.

Jacques, ou melhor, Lupofly, inverno-blue, quase primavera de 2008.

Um comentário:

Anônimo disse...

Jacques, passa-se tempos, não sei definir isso, nem o quanto passou...mas o tempo não é suficiente pra esquecermos o que nos fez feliz mesmo que por instantes...e identificadíssima com a história da Mariana, talvez a "própria",e que relendo teus textos...me trouxe ótimas lembranças...Venho aqui, deixar um breve sentimento de saudades... Espero que estejas bem... e se puderes mande notícias.

Beijos
Gisele Castro
Santa Maria/RS


giselecastro10@gmail.com