Mude o mundo

19/09/2007

Partidas e chegadas



Cinco e meia da manhã de domingo, toca meu celular e acordo meio assustado. Não cheguei a atender, apenas vi que tinha um recado na Caixa Postal, de uma tia. A respiração logo ofegou, afinal naquela manhã que se iniciava, às nove e meia, estava marcado o parto para chegada do meu terceiro sobrinho. Mas a notícia era outra. Um tio falecera. Irmão de minha mãe. Coração. Dois anos após perder um tio, este em acidente de trânsito, outro irmão de minha mãe se ia. Mais uma vez o sofrimento de uma morte na família. Minha mãe, sempre lutando contra tendências a depressão, passaria novamente pelo calvário e hábito macabro dos seres humanos de ver e velar o corpo do irmão por horas e horas intermináveis. Começaram então, os telefonemas entre primos e parentes, de como contar para aquele e para aquele outro, avisar aqui e lá. Minha mãe e minha irmã eram minha preocupação. Uma estava no hospital se preparando para uma cirurgia outra em casa cuidando dos dois netos pequenos. Fui para casa da minha irmã e lá estava minha mãe, feliz da vida cuidando dos netos.. E eu ali, encarregado de estragar aquela alegria. Fiquei observando a tranquilidade e alegria de todos ali, adiando ao máximo a notícia. Quando não fosse mais possível esconder, a notícia seria revelada.A esta altura , já era tarde de domingo e o Miguel, meu sobrinho, já era nascido.
Para mim chega ser engraçado o fato de a morte ser muito mais chorada do que proporcionalmente, a vida celebrada. Mas enfim..hábitos humanos!!! No velório,olhando meu tio ali deitado, naquela noite fria, numa câmara mortuária, analisei a bizarrice dos nossos rituais. E fiquei perguntando: Quantos aqui, inclusive eu, ligávamos para ele quando estava vivo ? Poucos. A vida dele foi corretamente celebrada pela família toda quando ele era VIVO ? A verdade é que os velórios e as despedidas são atos de “egoísmo”. Vamos lá pra chorar por nós mesmos. Pela pessoas que não vamos mais ver e conviver, mesmo que na grande maioria das vezes, nem convivêssemos tanto assim com o falecido. Bizarro mundo das emoções humanas. Eu , da minha parte, apenas torci para que ele tivesse partido com o sentimento de que a jornada valeu a pena. Se ele se foi assim, está ótimo no meu modo de ver. Tive mais razão em concluir isso quando vi que, quem mais sofria eram os espíritas da família, inclusive a minha mãe. Na concepção deles, meu tio já estava num lugar melhor. Então o choro só pode ser por si mesmo. Pela falta que vão sentir da pessoa. A morte realmente, ainda é o acontecimento que mais assusta os homens. Também porque ainda é o universo mais desconhecido pela humanidade.
Mas a vida..a vida a gente conhece bem. E acho sinceramente que ela é MUITO mal celebrada. Percebam:
Aniversário na família.. Nem todos vão.. mas enterro??? Cem por cento de frequencia. Espera aí!!! Todos comparecem na morte e poucos na vida?? É isso?
Enfim..
Partidas...
Chegadas...Na mesma manhã, chegou o Miguel, meu sobrinho. E esse é o grande milagre.O grande acontecimento.
Que seja bem vindo. E que seja celebrada sua vinda, por trazer a alegria que os manos Pedro e Inácio já nos trazem.
Que sua jornada seja bela, longa, feita em paz e cheia de todo amor que esse mundo maluco permita a ele receber.
Ao menos é o que o tio deseja, de coração.
Jacques, Quase Primavera de 2007

Nenhum comentário: