Mude o mundo

29/04/2008

Poesia de amor




Vida. Moacir tinha 18 anos quando conheceu Genifer ( É, Genifer assim mesmo, com G).Genifer com G tinha 16. Foi numa festa da paróquia da 4ª colônia de Canguçu, que reunia no final de toda colheita do fumo, vários pequenos produtores da região. Se agradaram um do outro a primeira vista e logo Moacir já estava passando todo dia com sua bicicleta na frente da casa de Genifer, mesmo que isso significasse pedalar mais de cinco quilômetros todo dia. Flertaram, namoraram e noivaram e dois anos depois disso tudo, estavam casando e festejando no mesmo salão paroquial que se conheceram. Dez meses depois veio o primeiro filho e quatro anos depois tiveram o último de três, numa típica “escadinha” do interior. O tempo passou e logo logo o mais velho tinha quinze anos, a menina de treze já queria namorar e o menino de onze continuava com problemas para aprender na escola.Os meninos ajudavam o pai na roça de fumo desde cedo e a menina ajudava a mãe nas lides da casa, quando não estava olhando a novelinha das cinco da tarde, no único canal de tv que pegava naquelas bandas. Final de semana iam visitar os pais e avós, Moacir levava os moleques para assistir o campeonato amador de futebol da colônia e Genifer e a filha iam visitar a “Cumadre e Dinda” e tomar mate doce depois café com cuca. O filho mais velho crescia rápido e Moacir sabia que logo ele iria querer ir aos bailões no sábado e que muito mais logo ainda haveriam muitas bicicletas passando na frente da sua casa , por causa de sua filha querida. O mais novo continuava com dificuldades na escola, mas era muito bom na roça e então Moacir não se preocupava muito com esse fato. Em mais cinco anos o filho mais velho casou ( na igrejinha aquela...), a filha namorava firme o filho do vizinho e o mais novo ajudava o pai cada vez mais. O cabelo de Moacir branqueava e as rugas de Genifer jah davam seus sinais, ajudadas pelo sol forte do trabalho campeiro. Moacir foi avô. Uma vez. Duas vezes. Cinco vezes, em dez anos.
Os filhos mais velhos tinham suas próprias casas e pedaços de terra, só o mais novo continuava com os pais ainda. Moacir e Genifer envelheceram , se aposentaram e os filhos assumiram as terras, cuidando da roças herdadas e das suas. Os netos de Moacir ajudavam os pais. Moacir falece, aos oitenta e dois anos, de coração cansado, segundo disseram os vizinhos. Cinco anos depois, parte Genifer. A bisneta mais velha deles tem seu primeiro filho, aos dezessete anos.
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Nessa história não existem baladas incríveis, rompantes de paixão novelescos, tornozelos sedutores ou carros envenenados. Não há lua de mel em Bora-Bora, nem divórcios letigiosos e lucros absurdos na bolsa de valores. Em nenhuma parte se ouviu falar de tesão, embora com certeza houvesse como em todos nós. Não havia um Audi na garagem nem um perfume francês no armário de Genifer. O filho mais novo deles, nunca chegou a fazer um mestrado da UFRGS. É uma história de gente simples e comum.
Mas cadê afinal a poesia de amor que está no título dessa história? Nem rima tem!!
Qual é graça disso? Dessa história agricultores pobres da 4ª colônia de Canguçu?
Ao contrário do que muitos pensam, a poesia habita o cotidiano, e não reside tão só em finais de semana na Serra e champanhas francesas. Tá aí contigo, nesse resmungo ou sorriso que você vai dar ao acabar de ler. O texto aliás começa com poesia disfarçada em outra palavra linda, que rima com TODAS as outras palavras!
Te liga, mané! Escreve bem a tua “ poesia”! Seja montado numa Ferrari ou num trator de arado!

Jacques, O Lobo Voador.
Outono “engripante” de 2008

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