Mais ou menos em 1973. Óbvio que seria no Bom Fim, não só porque é o bairro dos judeus, mas fecha os olhos e pensa na imagem do Cara. Bom Fim, óbvio!
Cristo foi um grande sofredor. Espiritualmente, mentalmente e no final da vida, fisicamente, sofreu demais. Seria colorado então, como eu. Ao contrário do Cristo original, não ia ajudar a mãe com as cabras. Até porque com seis anos ia começar a estudar ali no Julinho.
Cristo foi o maior rebelde da história. O “nosso” teria dois caminhos : Aos 13 anos, ou se juntava àquela galera sinistra de preto que fica ali na Redenção aos domingos ou ia militar no PSTU e fazer barulho com um megafone na esquina democrática. Sim, Ele podia ser chato também as vezes. Afinal também seria filho de Deus. Ou melhor, seria O filho de Deus.
Aos 15 ia aprender a tocar uma viola e ia sentar ali no Gasômetro com a namoradinha pra arranhar um Raul. Vendo o pôr do sol mais lindo do mundo e fumando um beck, claro. Aos 18 ia entrar pra Facul. Acho que Filosofia na UFRGS ia bem com ele, o que vocês acham? Mas na tarde ele ia trabalhar. Meio turno. Tipo numa livraria alternativa ou numa loja de CDs. Não que ele precisasse, pois o seu coroa aqui da terra ( Seu Zé ) bancou sempre tudo na boa. Mas ele queria trabalhar um pouco, afinal ele seria o cara mais legal do mundo e não era bacana só ficar “nas costas do coroa”. Aos 21 ia participar do seu primeiro protesto contra o aumento das passagens de ônibus e ia tomar seu primeiro “pau” da brigada ( Que não é nenhuma guarda pretoriana de Pilatos, mas baixa uma lenha legal no lombo da galera). Aos 23 ia morar com a namorada, a Madá, uma moreninha linda com fama de safada, mas que ele se apaixonou quando viu ela vendendo bagulhetes ali no Bric no domingo de manhã. Formado em Filosofia aos 24, ia começar a dar aula na rede pública ( O Cristo original na verdade era um professor, só que pregava/dava aula nas montanhas da palestina). Aos 25 teria o primeiro filho com Madá, que chamaria de Ernesto, numa homenagem orgulhosa ao seu primo “Chê” ( Ah tá, vocês nunca suspeitaram que Guevara e Cristo tinham idéias muito parecidas? ) Aos 30, iniciaria algum tipo de movimento pela paz e ficaria bem conhecido, embora nós, pobres idiotas, não fôssemos prestar muito atenção quando ele aparecesse em alguma matéria no Tele Domingo. E aos 33, estacionando seu Uno Mille ali na Ramiro, ele ia ser abordado por um guri completamente chapado de crack, com um revólver na mão, que ia se assustar com alguma coisa e ia lhe dar um tiro no peito. Tal como o Cristo original, ele morreria fruto da violência do seu tempo. Deixaria a vida cedo demais, como o de dois mil anos atrás.
Eu acho que seria assim. E você? Ou você duvida que mataríamos Cristo de novo, se ele vivesse nos nossos dias?
Sempre que vai chegando a época do Natal e eu já começo a ouvir falar em presentes, em dietas e que todo mundo engorda nas festas, eu me lembro do meu amigo JC. E que quase ninguém lembra que é o aniversário dele.
E o principal : Morreu se sentindo sozinho, triste, se achando abandonado pelo pai ,pelos homens e olhando o sofrimento de sua mãe ao pé da cruz.
E o principal-pior : Morreu pra que a gente aprendesse sobre solidariedade, divisão, amizade e amor.
Poucos aprenderam nesses dois mil anos. Talvez seu primo Chê e mais meia dúzia.
Na verdade, eu nem sei se ele era O Filho de Deus mesmo.
Mas se não era, na manhã de Páscoa, Deus adotou ele.
Pensa nisso!
Jacques, primavera de 2006
Cristo foi um grande sofredor. Espiritualmente, mentalmente e no final da vida, fisicamente, sofreu demais. Seria colorado então, como eu. Ao contrário do Cristo original, não ia ajudar a mãe com as cabras. Até porque com seis anos ia começar a estudar ali no Julinho.
Cristo foi o maior rebelde da história. O “nosso” teria dois caminhos : Aos 13 anos, ou se juntava àquela galera sinistra de preto que fica ali na Redenção aos domingos ou ia militar no PSTU e fazer barulho com um megafone na esquina democrática. Sim, Ele podia ser chato também as vezes. Afinal também seria filho de Deus. Ou melhor, seria O filho de Deus.
Aos 15 ia aprender a tocar uma viola e ia sentar ali no Gasômetro com a namoradinha pra arranhar um Raul. Vendo o pôr do sol mais lindo do mundo e fumando um beck, claro. Aos 18 ia entrar pra Facul. Acho que Filosofia na UFRGS ia bem com ele, o que vocês acham? Mas na tarde ele ia trabalhar. Meio turno. Tipo numa livraria alternativa ou numa loja de CDs. Não que ele precisasse, pois o seu coroa aqui da terra ( Seu Zé ) bancou sempre tudo na boa. Mas ele queria trabalhar um pouco, afinal ele seria o cara mais legal do mundo e não era bacana só ficar “nas costas do coroa”. Aos 21 ia participar do seu primeiro protesto contra o aumento das passagens de ônibus e ia tomar seu primeiro “pau” da brigada ( Que não é nenhuma guarda pretoriana de Pilatos, mas baixa uma lenha legal no lombo da galera). Aos 23 ia morar com a namorada, a Madá, uma moreninha linda com fama de safada, mas que ele se apaixonou quando viu ela vendendo bagulhetes ali no Bric no domingo de manhã. Formado em Filosofia aos 24, ia começar a dar aula na rede pública ( O Cristo original na verdade era um professor, só que pregava/dava aula nas montanhas da palestina). Aos 25 teria o primeiro filho com Madá, que chamaria de Ernesto, numa homenagem orgulhosa ao seu primo “Chê” ( Ah tá, vocês nunca suspeitaram que Guevara e Cristo tinham idéias muito parecidas? ) Aos 30, iniciaria algum tipo de movimento pela paz e ficaria bem conhecido, embora nós, pobres idiotas, não fôssemos prestar muito atenção quando ele aparecesse em alguma matéria no Tele Domingo. E aos 33, estacionando seu Uno Mille ali na Ramiro, ele ia ser abordado por um guri completamente chapado de crack, com um revólver na mão, que ia se assustar com alguma coisa e ia lhe dar um tiro no peito. Tal como o Cristo original, ele morreria fruto da violência do seu tempo. Deixaria a vida cedo demais, como o de dois mil anos atrás.
Eu acho que seria assim. E você? Ou você duvida que mataríamos Cristo de novo, se ele vivesse nos nossos dias?
Sempre que vai chegando a época do Natal e eu já começo a ouvir falar em presentes, em dietas e que todo mundo engorda nas festas, eu me lembro do meu amigo JC. E que quase ninguém lembra que é o aniversário dele.
E o principal : Morreu se sentindo sozinho, triste, se achando abandonado pelo pai ,pelos homens e olhando o sofrimento de sua mãe ao pé da cruz.
E o principal-pior : Morreu pra que a gente aprendesse sobre solidariedade, divisão, amizade e amor.
Poucos aprenderam nesses dois mil anos. Talvez seu primo Chê e mais meia dúzia.
Na verdade, eu nem sei se ele era O Filho de Deus mesmo.
Mas se não era, na manhã de Páscoa, Deus adotou ele.
Pensa nisso!
Jacques, primavera de 2006
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