Mude o mundo

29/09/2006

Enfim, o amor


Cintia, trinta e bem poucos anos, não acreditava mais no amor. Utopia, dizia ela. O tempo tinha passado e entre cretinos, falcatruas, caras sem sal e chatos, ela tinha concluído isso: Utopia.
Uma transa aqui outra ali. Prazeres pontuais, mas necessários a uma fêmea adulta que quer manter a sanidade mental
Moça bonita, professora, bem sucedida, boa cabeça, bom humor. Ela não entendia porque, não tinha acontecido com ela.
Sempre sonhou com uma família, filhos, algo que pudesse ocupar seus sonhos e ser motivo de suas lutas. Enfim, nada de diferente. O que todos nós buscamos : Uma razão, um sentido para a nossa breve existência no planetinnha azul do sistema solar.
Então Cintia mudou seus planos. Ela só podia estar sendo exigente demais. Isso. O problema era ela. Estava sendo pouco generosa com as pessoas. Tinha que mudar. Se adaptar e encontraria alguém.
Mudou.
Encontrou.
Beltrano não era dos mais cretinos não. Era até boa gente. Boa companhia, era engraçado. Às vezes. Não tinha aquela pegada que ela gostava. Mas era bem interessado no negócio. Enfim, um cara bacana.
Namorou.
Em dois anos casou, já grávida.
Aos trinta e seis esperava o segundo filho.
E os filhos trazem um sentido novo as pessoas, especialmente as mães, que em última instância, cumprem, de forma derradeira, a mais sagrada das missões de Deus, o que eu chamo de “A perpetuação do milagre”.
Quarenta anos, os filhos crescendo. A barriguinha do marido também. Ela se cuidava bastante, sempre foi atleta. Ainda jogava seu volei.
O casamento era tranquilo. Se não era um sonho, também não era um inferno.
Beltrano continuava gente boa. E bom pai.
Transavam duas vezes por semana, uma quantia boa para um casal de quarenta. Boa regularidade. ( Regularidade?)
A vida prosseguia bem. Aquele era o ritmo da navegação. Da vida.
Seu filho mais velho agora tinha doze anos e ela quarenta e cinco.
Um dia, no trânsito de Sampa, quatro e meia da tarde, Vê o carro do marido entrando no parado um carro na frente dela , no semáforo. Acompanhado.
Uma menina vinte anos mais jovem.
Barrigudinho. Careca. E agora também, totalmente cretino.
Separação, Questionamentos. “Valeu a pena ? Ao menos tenho meus filhos, meus amores...”
Solteira. De novo. Quatorze anos depois.
Reconstruir amizades. Se adaptar ao infernos dos bares enfumaçados. “Será que aguento?”
Um dia do nada, na fila do super, troca sorrisos e simpatias com um cara. “O CARA” , ela viria saber depois.
Meio sem jeito conversam na fila e ele pede o telefone. Saem outro dia. Riem. Falam dos filhos. Do casamento anterior que não deu certo. Dos sonhos que deixaram para trás.
E num sorriso, num sorriso simples, um mês depois, Cintia enxerga no cara a Utopia : O amor, enfim!!!
E isso é celebrado naquela noite, Nada de camas de motel. Numa sexta, inicio de final de semana, numa cabana na serra paulista, Cintia, quarenta e vários anos, faz amor pela primeira vez na vida. Amor sincero, entregue, de alma levea sem culpa, sem pudores, sem pensar no outro dia. Apenas deixa rolar a utopia.
Como termina a história? Pode terminar de várias maneiras. Mas te pergunto ?
Importa como termina ???
Cintia por um dia, por uma semana, por um mês ou por uma vida, viveu a plenitude da sua utopia. O que importa o tempo diante disso? O que importa se ela viveu pela metade durante quatorze anos de sua vida, se numa cabana, um dia, ela fez amor. O amor aquele. É aquele que Deus nos mandou fazer na terra para procriar e encher a terra com Seus filhos.
Esse conto tem uma lição ? Não sei. Tire sua própria conclusão. Olhe para dentro das suas próprias utopias. Este lobo que vos escreve não entende nada do assunto.
Nunca vivi essa utopia.
Mas viverei, ah, viverei.
Um dia (amanhã ou daqui a trinta anos) andando na rua, esperando o semáforo abrir ou na fila do super, alguém vai sorrir para mim e o tempo vai parar. Vou suspirar e talvez me lembre do que escrevi. E vou pensar, sorrindo...
Enfim, o amor !!!

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Esse é um texto de ficção, mas inspirado numa linda professora paulista, que segunda a noite, no chuveiro, como muitos e muitos de nós, chorou por ainda não ter encontrado seu amor.

Jacques, primavera de 2006

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