
Nove de setembro. Sexta feira.Da minha janela, no prédio da Borges 2233, não dá pra ver o pôr-do-sol nosso de cada dia. Porto Alegre está cinza. Leio no jornal sobre a morte, no meu bairro, da menina que levou um tiro na manhã de sete de setembro. 25 anos. Chegava em casa pra pegar seu filho. Não reagiu, Não agiu. Não nada. Apenas desceu do carro e morreu pelas mãos de um covarde. Não vou perder meu tempo e das pessoas que tem paciência e boa vontade para lerem o que escrevo sendo mais um a falar da violência. Não vou falar que segurança pública no Brasil é um desastre e que nós gaúchos, sai governo entra governo, continuamos na mesma. O nosso governador sem sal e aumentador de impostos está aí. Querendo ser Presidente! Dá para acreditar? Mas enfim...Eu prometi que não ia falar disso. Vou falar do imponderável. Daquela que nos chega e é a única certeza. O fim. A morte, a moça fiel que sempre nos espera no final do caminho. Mas, em homenagem a Fabiana, a menina que tenho certeza, não estava ainda no fim do seu caminho, vou falar do grande legado que essas coisas que me chocam sempre me trazem. A certeza do quanto é imponderável, urgente, imediata a necessidade da gente viver. Não. Não te preocupa. Isso não é um daqueles arquivos de power point com musiquinha chata que algum amigo nos manda achando que vai agradar, falando da beleza da vida e do amor (E que invariavelmente é imenso e lota nossa caixa de emails), Acho que é só uma reflexão. Uma reflexão até um pouco amarga, de como passa rápido. Tudo. Todos. Muito rápido. Desde a bala do cretino que deixou cinza a sexta feira de Porto Alegre até a vida toda da gente. Voam quase na mesma velocidade. E às vezes a gente nem nota. Mas ela passa. Tenho visto tantas passarem em branco.Eu me questiono muito sobre a minha..Será que ao menos tenho feito alguns rabiscos? O ser humano é péssimo em auto- críticas. Depois de ficar triste, não fiquei pensando se a moça do Rio Branco, morta na frente do filho e da sogra era nova, velha, casada, solteira..Fiquei pensando : ¿ Será que ela fez seus rabiscos? Deu tempo de realizar um sonho? Faltou dizer algo pro filho? Ela foi livre?¿ Porque acho que é disso que se trata a morte. Do que a gente deixou de fazer. O juízo final, ao meu ver, não tem nada de céu e inverno. Imagino que quando eu me for, vou encontrar São Pedro na Porteira Celestial, de bermudão e camiseta, me perguntando: ¿ E aí, guri! Curtiu?¿ Curtiu, viveu, aproveitou, gozou...Sei lá o nome. Mas sei que essa será a pergunta. Hoje, por mais coisas que eu tenha feito, mão tenho tanta certeza da resposta. Como todo pós-adolescente, sempre acho que tenho muito pra realizar. Mas quando eu tiver noventa e vários, e a tal da moça do fim do caminho vier me levar, espero sinceramente que eu possa olhar bem nos olhos dela e dizer : ¿ Pronto !! Vivi tudo ! Fui e fiz pessoas felizes !! Veio tarde, sua cretina....¿ Tchau. Fui na praça ver meus sobrinhos correrem. Tá afim? Paz. Jacques Machado Inverno de 2005

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