Mude o mundo

12/01/2009

Nosso melhores amigos



Quando eu tinha uns sete anos e minha irmã seis, ganhamos dois cachorrinhos, de presente exatamente não sei de quem. Branquinhos, da cor na neve, nos disseram que eram da raça “ ratoneiros”. Acreditei nisso durante algum tempo, depois deduzi que era um nome campeiro pra não dizer que os bichinhos eram vira latas. Mas eram tão bonitinhos que mereciam o título “de raça”. Sejá lá o que isso signifique. No mundo dos cães acho que discriminação por raça não é crime, é até virtude(?).Bolota e Bolinha. Os nomes deles. Nomes que crianças dão a seus bichos. Nomes estranhos.
O Bolota e o Bolinha brigavam e quando grandes, quase se matavam. Aí, minha mãe teve que doar um deles pra uma vizinha. Fazer o que? Os dois eram adeptos francos do fraticídio.
O Bolota ficou conosco. Viveu dezoito anos. Virou parte da família. Quando ele estava pra morrer, a consternação na família era tão grande que minha mãe me ligou (Eu estava em Porto Alegre) pedindo uma espécie de autorização para a veterinária dar a injeção final. (que se usa neste tipo de situação) E eu não queria dar autorização nenhuma, porque embora ele fosse um cachorro, pra mim era uma pessoa.
Inúmeras vezes, durante esses dezoito anos, tenho certeza que falei com ele e ele respondeu. Absoluta e serena certeza.
No final de semana passada fui ver, meio por acaso, o filme baseado no já famoso best-seller Marley e Eu. O livro, mais vendido durante semanas, conta a história de Marley , um cão meio maluco, e a vida dele em uma família americana. Não li o livro, o assunto não me despertou e me pareceu meio superficial quando li a orelha anos atrás.
Mas acabei no filme.E o filme é uma delícia.
E deliciosamente simples. Sem grandes invenções e parafernálias, narra com exatidão a vida de um casal, transformado depois em família e seu labrador estabanado. Emocionante e engraçado, nem o mais endurecido dos machões não se emociona com Marley e suas cachorrices. Os soluços são visíveis e ouvíveis no cinema. E eu mesmo, lavei as bolitas de enxergar várias vezes em lágrimas.
No texto final do filme , há uma curta, exata e bela narrativa, extraída do livro, sobre a grandeza da presença de Marley na vida do autor e sua família.
Eu sempre fui defensor do caminho do meio, o caminho de Sidarta, de Buda. Buda dizia que, se existe um caminho a esquerda e outro a direita, use o do meio. Provavelmente é o correto. Baseado nisso, nunca fui de muitas radicalizações sobre comportamentos. Sempre aceitei com razoável compreensão , idéias diferentes das minhas, por mais diferentes que me parecessem. Mas em duas coisas sempre fui radical : Não suporto, não tolero e me afasto logo de pessoas que me digam que não gostam de cachorros e crianças. Sei que á anti democrático, não é bacana e é cabeça durismo puro ser assim. Mas enfim, não consigo. Sempre tive uma teoria que, se existem mesmo anjos, eles “moram” nos cachorros. O que um cão pode fazer por um lar, ainda mais se for um lar com crianças, nenhuma terapia ou terapeuta pode fazer. Minhas pimeiras lágrimas derramadas por sentimentos , lá pelos meus dezesseis anos, tiveram por testemunha o meu Bolota, que não cobrava, não ria de mim e não me julgava o choro. Apenas me olhava e me consolava com sua presença. Opa, me pareceu uma definição de amigo . Não achou?
Mas enfim, se você não viu, vá ver Marley e eu. É uma bela história de risadas, choros e aquela sensação de deja-vu, de que todos nós já passamos por aquilo um dia. A gente sai chorando do cinema, mas em seguida ri, lembrando do nosso cusco de infância que tanto nos amou sem pedir absolutamente nada em troca. Opa, isso é reduntante não? O conceito de amar é esse ou me enganei ?


Ah, esqueci. O nosso, dos humanos não. A gente só “ama” se nos amam, só “dá” se nos derem e só se entrega se tiver em vista um bom retorno.
Saudades do meu Bolota. Que esteja bem bonito e faceiro no céu dos amigos..quer dizer..dos cachorros...


Lobo do mar, Garopaba, Sol e surf, 2009.


Ps. Hoje minha mãe tem um cusco chamado Peteca, nome que meu sobrinho Pedro, no auge dos seus três anos, “infligiu” ao cão. O Peteca é amigo de uma gata chamada Nina e é bom vir de uma casa que é habitada por essas figurinhas.

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